Eram 18 e agora são só 11. Tão simples como isto: há falta de fatos de astronauta na NASA. A escassez das denominadas Unidades de Mobilidade Extraveicular (UME) acaba de ser revelada por um relatório do Gabinete do Inspetor Geral da Agência Espacial (OIG). O problema tende a ganhar dimensão com uma questão de âmbito estratégico: afinal, que missões tripuladas pretende a NASA levar a cabo nos próximos anos?
Marte, Lua ou luas de Marte. Os destinos estão longe de ser turísticos – e talvez seja essa apenas uma das múltiplas razões que têm contribuído para as hesitações da NASA quanto a uma futura missão tripulada. Mas há um dado que já não oferece muitas dúvidas: Se a próxima missão tripulada tiver por destino algum dos planetas ou satélites mais próximos, os 11 fatos de astronauta restantes não deverão ser usados. E isto porque as UME foram desenhadas para uso em ambientes menos exigentes do ponto de vista dos movimentos, como o da Estação Espacial Internacional (ISS) e, dizem os entendidos, que serão demasiado pesados e desprovidos de flexibilidade para os joelhos e ancas para poderem ser usados em operações em “espaço aberto”, à superfície de um planeta.
O relatório do OIG não se limitou a deixar uma alfinetada à alegada incapacidade da NASA e do governo dos EUA no que toca à definição de planos de longo prazo. No documento, surge igualmente uma descrição das condições técnicas em que se encontram os fatos de astronauta que ainda permanecem em funções. Segundo relata a Popular Science, dois desses fatos têm vindo a ser alvo de manutenção devido a falhas nos sistemas de água; e outros dois ainda não obtiveram as necessárias certificações. E há ainda mais um par que apenas pode ser usado em câmaras de vácuo terrestres (usadas essencialmente para testes e treinos).
As deficiências dos componentes dos fatos restantes podem estar diretamente relacionadas com o propósito inicial das próprias indumentárias: a primeira leva de 18 fatos espaciais foi fabricada tendo por premissa a revisão e manutenção entre missões do Space Shuttle. O Space Shuttle deixou de voar (operou de 1981 a 2011) – mas os fatos continuaram a ser usados por astronautas da ISS. O que diminuiu consideravelmente as operações de manutenção.
O mote para o desenvolvimento de uma nova geração de fatos de astronauta foi dado muito antes de ser conhecido o relatório do OIG. Nos últimos dez anos, a NASA investiu 200 milhões de dólares (cerca de 183 milhões de euros) a tentar desenhar novos fatos de astronauta. «A Agência (NASA) está ainda a anos de distância de ter um fato especial pronto para missões, que seja capaz de substituir os UME ou que seja adequado para o uso em EVA (missões extraveiculares) em futuras missões de exploração», refere o relatório da OIG.
O relatório aponta ainda uma data determinante para todo o projeto de desenvolvimento da nova geração de fatos espaciais: em 2024, prevê-se que a ISS deixe o ativo. O que significa que, para serem testados em ambiente espacial e atividades rotineiras de uma missão, estes novos fatos deverão ficar concluídos antes dessa data. O relatório questiona se os engenheiros da NASA e empresas subcontratadas conseguem desenvolver os novos fatos antes do fim da ISS (a possibilidade de extensão do ciclo de vida da ISS poderá ajudar, caso se consiga adiar a data final para 2028).
Se inicialmente eram 18 e agora são apenas 11, o que aconteceu aos restantes sete fatos? Também neste ponto o relatório do OIG é revelador: quatro ficaram destruídos aquando das malogradas missões Challenger e Columbia; um quinto ficou inutilizado aquando da explosão de uma das missões da SpaceX; um sexto não sobreviveu a um teste; e por fim, há um sétimo que é apenas um protótipo – e nunca vai passar disso mesmo.