A notícia está a criar grande entusiamo na comunidade científica. Apesar da frequência de anúncios sobre novas tecnologias de baterias, a investigação liderada por John Goodenough está a ser vista como muito sólida e a tecnologia anunciada tem fortes possibilidades de ser industrializada rapidamente.
Goodenough, considerado o “pai” das baterias de iões de lítio, desenvolveu a investigação com Maria Helena Braga, na Universidade do Texas em Austin. De acordo com a informação divulgada por esta universidade, os dois investigadores inventaram «uma bateria sólida de baixo custo, não nanocombustível, com uma vida muito longa, com grande densidade volumétrica e taxas rápidas de carregamento/descarregamento». Na prática, quando comparadas com as baterias de lítio atuais, a novas baterias vão ser mais compactas, durar mais tempo (suportam mais ciclos de carga/descarga até perderem capacidade) e vão poder ser carregadas muito mais rapidamente (em minutos em vez de horas).
A grande inovação é o eletrólito sólido de vidro, que permite a utilização de um ânodo construído em metais alcalinos sem a formação de ”dendritos”. Estes elementos podem surgir em baterias de lítio tradicionais, que usam eletrólitos líquidos, levando a curtos circuitos internos que provocam incêndios rápidos e até mesmo explosões. Os dendritos são um género de filamentos de lítio (condutores) que se podem formar quando as baterias são carregadas ou descarregadas muito rapidamente.
A tecnologia de eletrólitos em vidro codesenvolvida por Maria Helena Braga tem ainda a vantagem de poder operar em temperaturas muito baixas, outro benefício relativamente às baterias de lítio atuais. A notícia publicada pela Universidade do Texas em Austin dá como exemplo os carros elétricos, que, com as novas baterias, vão poder operar a temperaturas de -60 graus Celcius.
Apesar de todas as notícias sobre este desenvolvimento mencionarem, sobretudo, John Goodenough e a Universidade do Texas em Austin, a inovação parece ser muito mais portuguesa que americana. Isto porque a investigação dos eletrólitos sólidos em vidro já tinha sido iniciada por Maria Helena Braga e outros colegas portugueses na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) há cerca de dois anos. Aliás, o artigo científico publicado no jornal Energy & Environmental Science menciona ainda outro nome português: Jorge A. Ferreira.