Um comprimido ou uma injeção no rabo? A maioria dos homens se pudesse, provavelmente, escolheria a primeira opção, mas os 320 voluntários de um projeto de investigação da Organização Mundial de Saúde não tiveram outra alternativa senão sacrificar o corpo a bem da medicina e do controlo de natalidade. De oito em oito semanas e durante mais de um ano, estas “cobaias” sujeitaram-se a injeções de testosterona e progestogénio. Os resultados são promissores, apesar das necessárias afinações antes de se avançar para o lançamento do primeiro contracetivo hormonal masculino num circuito comercial.
De acordo com o estudo publicado no Jornal de Metabolismo e Endocrinologia Clínica, todas as cobaias registaram uma quebra no número de espermatozoides – o que não impediu quatro gravidezes imprevistas.
O estudo tinha por pressuposto a participação de casais e não só dos homens que se voluntariaram para receber as injeções. Apenas casais que não tivessem planos de procriar nos dois anos seguintes, mas que estivessem dispostos a aceitar uma gravidez inesperada poderiam participar nos testes. E isto porque o novo contracetivo masculino não elimina os espermatozoides na totalidade: cerca de 96% dos voluntários que levaram os testes até ao final passaram de uma média que, normalmente, oscila entre 15 milhões e 200 milhões de espermatozoides por mililitro de esperma para níveis inferiores a um milhão de espermatozoides por mililitro de esperma.
Além de não inviabilizar a gravidez na totalidade (daí as quatro gravidezes e a taxa de sucesso não superar os 92,5%), o método contracetivo apresenta ainda vários efeitos secundários indesejados. O estudo apurou que 46% dos voluntários passaram a sofrer de acne depois de começarem a tomar injeções que juntavam 1000 miligramas de testosterona a 200 miligramas progestogénio.
Há ainda o registo de 36% de voluntários que terão confirmado um crescendo do desejo sexual e 23% queixaram-se de dores no local em que as injeções foram aplicadas. Ainda nos efeitos negativos, destaque para os 17% de voluntários que disseram passar a sofrer de desequilíbrios emocionais e, não menos importante, os cinco por cento de voluntários que não regressaram aos valores médios de espermatozoides um ano depois de terem terminado os testes.
Mario Festin, investigador da Universidade das Filipinas e responsável médico do Departamento de Saúde e Investigação Reprodutiva, admite, em entrevista ao Chicago Tribune, que ainda há uma longa evolução a ser feita antes de uma eventual estreia comercial: «Temos de continuar a procurar e a testar os medicamentos certos, e respetivas combinações, com a máxima eficácia, segurança, e aceitabilidade, e o mínimo possível de efeitos colaterais».
Aparentemente, serão apenas estes efeitos que poderão impedir que o novo contracetivo hormonal se torne um sucesso: 75% dos voluntários admitiram estar dispostos a usar uma solução similar no dia-a-dia.