Não há nada que enganar: quem apanha a A28 na entrada da Ponte da Arrábida, Porto, com um carro de classe 3 paga 8,40 euros quando sair na portagem de Caminha, junto à fronteira com Espanha. No final do ano, o custo desta portagem poderá vir a ser calculado, pela primeira vez, consoante o perfil do condutor, as condições meteorológicas, o tráfego, as emissões de CO2, o dia da semana, entre outras variáveis da viagem. Os primeiros testes de cálculo de taxas de portagem dinâmicas vão arrancar confinados a 10 camiões da Luís Simões e às autoestradas A4, A25, A28, A29 e A41.
Os valores das taxas serão apenas simulados, mas na Infraestruturas de Portugal (IP) há a expectativa de que no futuro se tornem realidade: «Neste projeto apenas estamos a testar o cálculo de taxas de portagem com empresas de transportes de mercadorias, mas admito que, a longo prazo, este conceito possa ser aplicado a outro tipo de empresas, ou mesmo a automóveis pessoais. Nos EUA e em Israel, já há algumas experiências pontuais», explica Sónia Machado, é Diretora do Departamento de Desenvolvimento e Controlo de Receita da IP.
Os testes com taxas de portagem dinâmicas vão ser levados a cabo no âmbito do projeto Optimum, que reúne especialistas de empresas e universidades europeias em torno do desenvolvimento de soluções que tornam as estradas mais limpas e eficientes. O projeto arrancou em maio de 2015 e deverá terminar a maio de 2018.
Além da IP e da Luís Simões, os testes com taxas de portagem dinâmicas contam com a participação de investigadores da Uninova e da TIS. Do grupo também fazem parte a KAPSCH, empresa austríaca que é especializada em tecnologias para as estradas para a rodovia, e ainda a Universidade de Aegean, da Grécia. Juntamente com a TIS e da Uninova, os investigadores da universidade grega ficarão responsáveis por desenhar o modelo que deverá ter em conta todas as variáveis que poderão fazer com que uma taxa de portagem se torne dinâmica.
Nesta primeira fase dos teses, os investigadores do projeto Optimum comprometem-se a fornecer as diferentes simulações de taxas de portagem 48 horas antes de um veículo iniciar um determinado percurso. Ainda não está definida a forma como essas simulações serão disponibilizadas à Luís Simões (num computador com acesso à Net; no sistema de gestão de frota; no GPS do veículo; etc.), mas Sónia Machado não esconde que os testes do Projeto Optimum têm como referência o desenvolvimento de uma solução que, no limite, poderá assumir a forma de uma app que o condutor, profissional ou não, poderá consultar para definir qual o melhor percurso a seguir numa viagem.
«Sabemos através das empresas e dos consumidores que continua a ser dada a primazia aos custos de portagem (para a definição de percursos e escolhas de estradas). O ponto-chave pode passar pelo cálculo de uma taxa atrativa para cada um dos perfis do consumidor», refere Sónia Machado.
As taxas dinâmicas pretendem aliar os objetivos comerciais aos propósitos ambientais, mas ainda há algumas barreiras legais que terão de ser superadas. Sónia Machado admite que as concessionárias poderão ter o interesse de passar a controlar os custos cobrados nas autoestradas, mas também recorda que, de acordo com a legislação atual, cabe ao Governo definir os custos das portagens. «Para a aplicação das taxas dinâmicas, o Governo terá sempre de intervir para garantir às concessionárias a legitimidade de determinarem os custos das portagens», refere a responsável da IP.