Se há lição que podemos retirar desta pandemia é que, em pleno século XXI, as desigualdades no acesso ao ensino continuam a existir, em muitos casos agravadas pelos confinamentos obrigatórios impostos pela Covid-19. E se, em 2020, o fator surpresa empurrou para casa professores e alunos com pouca ou nenhuma preparação, o mesmo não pode dizer-se do atual ano letivo. É inegável que a utilização de diferentes ferramentas tecnológicas ao serviço do ensino cresceu exponencialmente em muito pouco tempo, mas existe um longo caminho a percorrer até que todos – professores e alunos – tenham um acesso verdadeiramente equitativo a equipamentos, redes e conteúdos digitais.
Ainda assim, apesar da tecnologia acrescentar valor à aprendizagem e ao ensino, terá sempre que ser complementada com momentos presenciais, sob pena de se perderem aprendizagens essenciais. Uma conclusão revelada por professores e outros especialistas na área do ensino, e corroborada por uma pesquisa da McKinsey. Segundo a consultora, em média, os estudantes perderam, em 2020, o equivalente a cerca de sete meses de aprendizagem em ambiente presencial devido aos confinamentos, tempo que cresce para 10 meses se falarmos de alunos carenciados.
Conclusões como esta permitem aferir alguns dos desafios que se colocam à educação para os próximos anos – e mesmo décadas –, analisar os resultados obtidos, corrigir estratégias, e preparar próximas crises, bem como retirar aprendizagens que sirvam para preparar o ensino no futuro. “Os grandes desafios da Educação não serão fundamentalmente tecnológicos, mas pedagógicos e sociais”, afirma Mário Seborro, diretor comercial de clientes Top Corporate, na Altice Empresas. Na sua opinião, os modelos de Educação e de Escola, que alguns consideram cristalizados, são agora desafiados a evoluir. “A resiliência e a flexibilidade do ensino face a novos desafios de cidadania – inclusão, equidade, sustentabilidade, privacidade, … – e a novos requisitos laborais – automação, digitalização, globalização, … – refletem um quadro de incerteza que apela à aprendizagem para a mudança, e à mudança da aprendizagem”, reforça. Neste contexto, a educação não formal e a aprendizagem ao longo da vida serão também modelos educativos, complementares, que contribuirão para dar resposta ao desafio da mudança, mas que exigem, desde logo, reflexão, análise e decisões pela comunidade educativa.
Ponto de partida para a reforma para a educação digital
A necessidade de evolução do modelo de ensino há muito que está diagnosticada, e a pandemia só veio dar o ‘empurrão’ necessário para que a transformação possa ocorrer mais rapidamente. Agora, como aponta Mário Seborro, “é necessário que a vontade política e o sentido de urgência ganho com a pandemia enfrentem o desafio de rever e melhorar um sistema educativo exausto, porque se há um consenso é o de que o futuro dos países está a ser dirimido no sistema educativo”.
Aliás, esta é uma das áreas prioritárias incluídas no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que prevê a reforma para a educação digital como um dos eixos de desenvolvimento fundamentais para o país. Ao todo, o documento entregue em Bruxelas contabiliza 538 milhões de euros para modernizar o espaço escolar, democratizar o acesso às tecnologias e para desenvolver as competências digitais, um objetivo em linha com o Plano de Ação para a Transição Digital, desenvolvido pelo Governo. Outra das grandes linhas de ação previstas no PRR, com vista ao crescimento da economia, é a aposta no ensino e na formação profissional que contará com um orçamento na ordem dos 710 milhões de euros.
A tecnologia terá, neste campo, uma importância fundamental para o cumprimento dos objetivos e metas definidos, quer em modelo presencial, quer híbrido. A este nível, o próprio Conselho Nacional de Educação (CNE) reconhece que as competências necessárias à Escola Digital – em modelo remoto ou híbrido – vão além da literacia tecnológica. “A formação para as tecnologias digitais não se pode limitar ao domínio tecnológico, exigindo a inclusão do desenvolvimento de competências para a utilização pedagógica dos recursos por parte de professores e técnicos e de competências e atitudes por parte dos alunos”, pode ler-se no parecer do Conselho ao conteúdo do PRR. Mário Seborro partilha de opinião semelhante e acredita que “as soluções ICT (Information and Communication Technologies) são passíveis de suportar qualquer dos modelos que venha a vingar no futuro”. Para o responsável da Altice Empresas, o valor destas soluções está no seu caráter de colaboração, simulação, imersão, co-produção, ou multimédia, potenciadores de melhor aprendizagem, recordando que a sua utilização já não se cinge à escola. No mundo, exemplifica, cerca de 15 milhões de alunos recorrem a programas abertos como a Khan Academy, um dos programas de colaboração educativo promovido e desenvolvido com o apoio da Fundação Altice. Durante a pandemia, esta plataforma aberta de aprendizagem viu crescer em 20 vezes o registo por educadores e educandos. Outro exemplo que personifica a ideia de que o ecossistema educativo deve ser pensado de forma aberta e para além das paredes da escola são as denominadas MOCC (Massive Open Online Courses) que mantêm, ao longo dos últimos 12 meses, ritmos de crescimento de 50%.
Personalizar a aprendizagem
A democratização das competências de literacia digital e de programação é outro dos passos fundamentais na direção da criação de uma educação digital transversal a toda a sociedade. “A formação do seculo XXI durará toda a vida e, por isso, beneficiará de modelos formativos desmaterializados, que não exijam a presença recorrente do cidadão em escola”, diz Mário Seborro. Ultrapassada a barreira do desenvolvimento de competências, o desafio passará por uma melhor utilização da tecnologia ao serviço da educação. A personalização da aprendizagem e dos ritmos, mas também dos conteúdos, é uma das possibilidades que a tecnologia permite endereçar, “a par da produtividade e acutilância de tarefas de gestão e de avaliação/feedback, que ocupam hoje parte importante do dia-a-dia do ensino”, complementa o responsável da Altice Empresas.
Recorde-se que o mercado da tecnologia educativa (EdTech) cresce a um ritmo anual de 18% entre 2020-27, de acordo com os dados da Grand View Research, esperando-se que possa apoiar a revolução do processo de aprendizagem.
Na Altice Empresas, a relação com o ensino e com a disponibilização de soluções tecnológicas direcionadas para as escolas, em colaboração com o Ministério da Educação, é já de longa data. A solução Tele-Aula, por exemplo, remonta aos anos 90, e representa um dos movimentos pioneiros na utilização das ICT no setor da educação em Portugal. Mais recentemente, o programa Escola Digital, criado no contexto de pandemia, está a permitir aprofundar esta relação, bem como melhorar e ampliar a oferta de soluções tecnológicas às escolas. Ao abrigo do programa Escola Remota, ao longo do ano de 2020, a Altice Empresas distribuiu mais de 23 090 equipamentos (portáteis, tablets, routers com conetividade) e dotou mais de 7 585 alunos e professores de uma plataforma educativa para ensino à distância.
O trabalho com os municípios é também uma das apostas da Altice Empresas, uma vez que se trata de um ponto importante de contacto com a comunidade escolar. Exemplo disso é o Observatório da Educação, uma solução completa que permite analisar o panorama educativo, nomeadamente o sucesso escolar e o parque escolar disponível, bem como divulgar o trabalho desenvolvido no setor da educação. “Com esta solução, o município pode acompanhar e aprofundar as políticas educativas implementadas na região, com facilidade e rigor, por forma a melhorar os indicadores de educação”, explica Mário Seborro. Outro exemplo neste contexto, salienta o responsável da Altice Empresas, é a Transferência de Competências. Neste caso, trata-se de uma solução global que permite aos municípios e comunidades intermunicipais dar resposta ao decreto-lei 21/2019, que prevê a Transferência de Competências no domínio da educação. Com a Transferência de Competências o município terá uma solução chave-na-mão, com rápido set-up, que lhe permitirá efetuar uma análise integrada dos indicadores que constituem a Carta Educativa e a gestão dos módulos escolares. “É uma solução que enfoca nas medidas de reforço e alargamento de competências no âmbito da descentralização da educação”, conclui.