Quem escreve sobre Ciência nunca tem falta de assunto. Felizmente é impossível acompanhar tudo o que se faz nos laboratórios e gabinetes de investigação pelo mundo fora. Segue uma seleção de notícias que não acompanhamos e que agora resumimos:
A relação entre o chumbo na gasolina e a criminalidade
É bem conhecida a relação entre a exposição ao chumbo e os efeitos ao nível do sistema nervoso central. Isto porque o metal compete com o cálcio essencial à comunicação entre neurónios e ganha. Ou seja, o chumbo liga-se às células e impede o seu normal funcionamento. Agora um estudo da Universidade do Texas, publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences, que analisou dados de 1,5 milhões de pessoas, na América e na Europa, mostra uma clara relação entre a exposição em criança e a maturidade e traços psicológicos na vida adulta, que sugerem menor capacidade de adaptação e dificuldade em lidar com a adversidade.
“As ligações entre a exposição ao chumbo e os traços de personalidade são bastante impactantes, porque levamos nossa personalidade connosco para todo o lado”, diz Ted Schwaba, pós-doutorado no Departamento de Psicologia da UT Austin, no comunicado publicado pela universidade. “Mesmo um pequeno efeito negativo do chumbo nos traços de personalidade, quando agregado a milhões de pessoas e todas as decisões e comportamentos diários que a nossa personalidade influencia, pode ter efeitos realmente enormes no bem-estar, produtividade e longevidade.”
À luz destes resultados, os investigadores especulam que os altos índices de criminalidade verificados entre os anos 60 e 90 do século passado possam estar relacionados com o chumbo no ambiente, em particular na gasolina. Comparando os traços da personalidade com dados ambientais, concluíram que pessoas que cresceram em áreas com mais chumbo atmosférico também eram menos agradáveis e mais neuróticas na idade adulta.
A importância dos tardígrados para o estudo da vida na Terra
Reza a lenda que as baratas são os seres mais indestrutíveis à face da Terra e que até a um acidente nuclear conseguem resistir. Por mais irritantes que possam ser, não é verdade que sejam o mais resistente dos animais. Este prémio vai para os tardígrados, um ser microscópico que vive nos musgos e nos líquenes e que se adaptam às circunstâncias mais adversas, como temperaturas extremas, radiação ionizante e altas pressões. Estas características levam a que tenha muito interesse para a ciência. Pata testar a hipótese de que a vida na Terra veio à boleia de um asteroide, que a terá trazido para cá, cientistas da Universidade de Kent dispararam uma pistola armada com estes seres impressionantes.

Primeiro, a equipa congelou amostras de tardígrados por 48 horas, o que os fez assumir o seu modo proteção. Em seguida, carregaram as amostras num invólucro de náilon e dispararam de uma arma em direção à areia. Mediram depois a velocidade do impacto e a pressão de choque e os tardígrados foram analisados para inspecionar qualquer dano que tenham sofrido.
Os investigadores identificaram o limite superior de sua sobrevivência neste cenário – velocidades de impacto de 3.240 km, o que cria um choque de pressão de 1,14 Gigapascals. O que tem implicações para a tese da panspermia. A equipe diz que a maioria dos impactos de asteroides criaria pressões muito altas para os tardígrados sobreviverem, sendo que uma fração destes impactos ocorre dentro da faixa de tolerância. Os tardígrados sobreviveriam, por exemplo, até a um terço das colisões de asteroides na Lua.
O Homem Dragão, o novo hominídeo

Depois de ter sido descoberto acidentalmente em 1933, o crânio de um novo hominídeo esteve escondido durante mais de 80 anos no fundo de um poço no nordeste da China. Encontrada na cidade chinesa de Harbin, e depois e analisada sabe-se que o crânio tem entre 138 mil e 309 mil ano, combinando características primitivas, como nariz largo, sobrancelha baixa e caixa craniana, com outras mais semelhantes ao Homo sapiens, como as maçãs do rosto achatadas e delicadas.
O novo hominídeo recebeu o nome de Homo longi, nome derivado de Heilongjiang, ou Rio do Dragão Negro, a província onde o crânio foi encontrado. Quando foi tornada pública a descoberta, no verão deste ano, ganhou o nome de Homem Dragão.