Só há uma forma de o trabalho na agricultura – duro, rodeado de imprevistos e sem direito a fim-de-semana ou férias – se tornar menos difícil e mais atrativo. E é com a introdução de tecnologia nos métodos produtivos, que ajuda a lidar com a incerteza meteorológica, automatizar processos e até reduzir consumos desnecessários de fertilizantes e pesticidas. Os grandes produtores já têm vindo a fazer este caminho há algum tempo, com claros benefícios em eficiência e produtividade. No entanto, os pequenos e médios produtores ainda não chegaram lá e é especialmente para estes que está pensado o novo mestrado, coordenado pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), na área da agricultura de precisão. “Não têm acesso às tecnologias, nem estrutura para a elas aceder”, sublinha a coordenadora do mestrado e diretora do GreenUporto, Centro de Investigação em Produção Agroalimentar Sustentável, Ruth Pereira.
Com um currículo inovador, que inclui métodos de ensino interativos e parcerias com cooperativas e empresas agrícolas que já trabalham com soluções de base tecnológica, o curso irá tirar partido de tecnologias de Smart Agriculture, sob alçada do projeto TERRATECH/Erasmus+, e terá a duração de oito meses, mais um mês de treino prático numa das empresas parceiras. Durante o curso, haverá dois períodos de mobilidade que permitirão aos alunos e professores encontrarem-se pessoalmente para a realização de laboratórios de grande escala, tudo sob coordenação da FCUP e com a participação de 14 entidades de dez países europeus.
Não nos podemos convencer de que a tecnologia vai resolver todos os problemas. Mas será fundamental para produzir mais com menos, poupar água, acompanhar a avaliação da qualidade do solo, reduzir o uso de fitofarmacêuticos, permitir a deteção precoce de pragas e doenças, identificar onde há emergências
Ruth Pereira, FCUP
Os estudantes que completarem esta formação estarão aptos a usar novas tecnologias ligadas à agricultura, incluindo sensores, tecnologias de posicionamento, novas ferramentas de análise de dados e redes avançadas através da Internet das Coisas (IoT) e da comunicação máquina-a-máquina (M2M). Estas tecnologias permitem, por exemplo, fazer a monitorização em tempo real de parâmetros físicos dos campos de cultivo e das condições climatéricas locais assim como um controlo preciso da irrigação, fertilização e eliminação de pestes através da automação, obtendo assim um diploma europeu.
Esta estratégia também tem como objetivo atrair os jovens para o trabalho agrícola, ao apresentá-lo como uma atividade “mais sustentável, económica e ambientalmente, mais sexy”, diz a professora, que participou na mesa-redonda promovida pela Exame Informática, durante a apresentação dos prémios os Os Melhores e as Maiores do Portugal Tecnológico.
“Não nos podemos convencer de que a tecnologia vai resolver todos os problemas. Mas será fundamental para produzir mais com menos, poupar água, acompanhar a avaliação da qualidade do solo, reduzir o uso de fitofarmacêuticos, permitir a deteção precoce de pragas e doenças, identificar onde há emergências”, descreve.
O curso começará em setembro do próximo ano e os alunos, que terão aulas presenciais e em modo remoto, irão mover-se entre a Universidade de Debrecen, na Húngria, e a Helénica, na Grécia, com aulas em inglês, mas também em grego. “Prevemos apanhar quer alunos da área agrícola, que não terão tantos conhecimentos da área tecnológica, quer os da engenharia, que desejem ficar a saber de agricultura”, antecipa Ruth Pereira.