Mais uma eleição passou e ainda não sabemos ao certo as cenas dos próximos capítulos da política nacional. Mas se há algo que já sabemos, com certeza, é a ausência de respostas à pergunta que continua a ser o grande elefante na sala quando o assunto é construir um projeto para o país: por que razão temas estruturantes para o futuro, como a Educação e a Inovação, não ocuparam um lugar central nas visões propostas pelos principais candidatos?
O ‘pseudo pragmatismo’ de uma resposta como “porque não dá votos”, “porque foi uma eleição atípica” ou “porque isso não alimenta o circo mediático e dos algoritmos” não se aplica na proposta de enquadramento desta conversa. Porque, neste caso, estaríamos apenas a perpetuar a celebração dos becos sem saída (das zonas de conforto?) do debate político, ao invés dos mínimos olímpicos de racionalidade e razoabilidade que uma ideia de Res Publica exige. Da necessidade de educação e inovação que uma República exige.
A transformação do conhecimento em valor socioeconómico é um dínamo da economia contemporânea e da política externa. E o que pode ser feito, através da educação, para que sejam criadas condições favoráveis para o florescimento deste processo de transformação – que nada mais é do que inovação na prática? Que iniciativas formativas podem ser implementadas para que líderes, gestores e empreendedores reinterpretem a sua cadeia de valor enquanto um ecossistema, tirando assim o melhor destas sinergias e trabalhando em projetos cooperados? Que evidências de investigação podem ser providas para que legisladores desenvolvam melhores regulações a favor de um ambiente de negócios equilibrado entre livre iniciativa e bem comum? Quais os fundamentos e práticas que devem ser promovidos para desbloquear o desenho de novos modelos de negócio e estruturas de gestão da inovação aberta?
Ao traduzirmos estes temas para diferentes variáveis, como aquelas utilizadas pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (World Intellectual Property Organization – WIPO) no seu Global Innovation Index (GII), vemos as duas faces da moeda de um Portugal que, em números absolutos, está bem posicionado (30º lugar) entre as 132 economias nacionais analisadas. Pela positiva, dados como o investimento em software (6º lugar), a proporção de investigadores face à população (15º) e a estabilidade operacional para negócios (17º) indicam capacidades instaladas no país que são usualmente associadas à economia do conhecimento, um requisito básico para o amadurecimento de um ecossistema de inovação.
Contudo, alguns dos indicadores de mais fraca performance do país no GII, como o crescimento da produtividade do trabalho (73º), a oferta formal de treinamento oferecida pelas empresas (59º) e os clusters de absorção de conhecimento (46º) e difusão do conhecimento (45º) sugerem o contrário: oportunidades latentes estarão a ser perdidas devido a uma circulação de conhecimento acionável abaixo dos níveis esperados, bem como à carência de programas de upskilling e pensamento multidisciplinar, baixa prevalência de projetos abertos e em rede com claros objetivos finais e a um eventual lost in translation entre as perspetivas da Academia e dos agentes produtivos, o que tende a dificultar convergências para a transformação do conhecimento e da investigação fundamental em valor económico partilhável. A educação orientada para a inovação é uma oportunidade de resposta a este contexto, e de alavancagem da economia portuguesa sob o espírito do Século XXI, na medida em que vários dos “ingredientes do bolo”, como aponta o relatório da WIPO, já se encontram prontos para serem utilizados. Sob esta metáfora, os ingredientes para o amadurecimento do ecossistema de inovação português estão apenas à espera de novas receitas, de cozinheiros com novos repertórios e de mais cozinhas experimentais.