“O estudo de como fazer com que as máquinas realizem tarefas que exigiriam inteligência se fossem feitas por humanos.”. Foi esta a definição de Inteligência Artificial (IA) resultante da Conferência de Dartmouth, que assinalou o nascimento da IA enquanto área de investigação. Estávamos em 1956.
Desde então, têm-se vindo a desenvolver diversas técnicas, que configuram o âmbito mais alargado daquilo a que hoje chamamos Inteligência Artificial. A IA contém uma série de subáreas, como o Processamento de Linguagem Natural, a Visão Computacional, a Robótica, o Reconhecimento de Voz ou a Aprendizagem Automática, entre outras.
Ao longo destes quase 70 anos, a IA tem sido alvo de assinaláveis avanços, penetrando no nosso dia-a-dia em várias dimensões. Quando o Facebook sugere que identifique um amigo específico numa fotografia que acabou de publicar, é o reconhecimento de imagem – um campo da Visão Computacional – a funcionar. Se o seu banco lhe ligar a dizer que notou um padrão irregular de gastos no seu cartão de crédito, detetou-o, provavelmente, através de um modelo de Aprendizagem Automática que reconhece transações fora da norma. E o reconhecimento do significado e intenção daquilo que dizemos aos assistentes de voz dos nossos smartphones é possível graças ao Reconhecimento de Voz e ao Processamento de Linguagem Natural.
Para além destas, encontramos IA em várias aplicações de apoio ao negócio e à produtividade, em carros autónomos, em armas de guerra, em hospitais, na agricultura, na restauração e em muitos outros setores. As ferramentas de cibersegurança, o nosso CRM, o sistema de videovigilância do nosso escritório e até os sistemas de rega inteligentes usam alguma forma de Inteligência Artificial. A propósito do interesse crescente nestes temas por parte da sociedade, o Nova SBE Digital Experience Lab irá promover duas talks gratuitas sobre Inteligência Artificial nos dias 15 e 23 de Março, no âmbito do seu ciclo anual sobre tecnologia, negócio e sociedade.
A presença crescente deste tipo de aplicações e a sua também crescente inteligência têm levado a que, a cada novo avanço, nos questionemos sobre o futuro do ser humano, e da sua inteligência particular. Poderá já ter imaginado um mundo em que os trabalhos que conhecemos serão gradualmente substituídos por máquinas, que os farão melhor e mais rapidamente, até ao ponto em que a própria máquina, munida de uma inteligência sem precedentes, desenvolverá uma ‘superinteligência’, muito além das capacidades humanas. Este ponto no tempo, chamado de singularidade tecnológica, tem sido retratado na cultura popular de forma profundamente distópica. Por exemplo, o filme Exterminador Implacável retrata uma guerra espoletada por um sistema artificial, o Skynet, que, ao tomar consciência de si próprio, se rebela contra os seus criadores: nós.
Mas voltemos ao presente. Nas última semanas, a OpenAI tornou-se amplamente conhecida em virtude da adoção explosiva de um dos seus produtos, o ChatGPT. Cerca de 100 milhões de utilizadores do ChatGPT foram mostrando o potencial que um Large Language Model (LLM) como este pode ter em virtualmente tudo: escrever código, montar planos de negócios, apoiar a educação, elaborar planos de viagens, personalizar respostas de acordo com a pessoa a que se destinam, e até passar nalguns dos mais exigentes exames profissionalizantes dos EUA.
Mas o ChatGPT tem, mesmo sem parecer, também um lado negro. O das alucinações, da informação incorreta, das respostas agressivas, dos vieses e da antropomorfização da máquina. A grande virtude destes modelos – e também o seu maior vício – é utilizarem habilmente a ferramenta através da qual nos descrevemos a nós, às nossas ideias e ao mundo à nossa volta: a nossa linguagem. E, embora algumas interações com o GPT3.5 (o modelo que serve de base ao ChatGPT e ao seu parente próximo, o Bing) possam fazer parecer que estamos à beira da autoconsciência da máquina, estaremos provavelmente muito longe da tal singularidade tecnológica.
Para melhor entendermos o que deve ser do humano e o que pode ser da máquina, precisamos de continuar a debater e a refletir, como se tem vindo a fazer um pouco por todos os setores. Temos também de experimentar para, com propriedade, podermos entender os limites e as áreas cinzentas da utilização desta tecnologia. É fundamental criar literacia digital e espírito crítico.
O presente é já de um novo tipo de inteligência – a Inteligência Estendida – em que a Inteligência Humana é complementada pela Inteligência Artificial. Afinal de contas, quando foi a última vez que procurou num mapa físico a melhor maneira de ir de A a B? Ou corrigiu um texto sem recorrer a um autocorretor?
Ainda assim, a história que a humanidade tem vindo a escrever com as máquinas é a da terceirização de tarefas e conhecimento. Embora estejamos a caminhar no sentido de as máquinas – e a Inteligência Artificial – tomarem para si cada vez mais dos conhecimentos e tarefas periféricos do nosso dia-a-dia, continuaremos com espaço para exercer aquilo que nos faz humanos: o raciocínio, a empatia, a criatividade e capacidade de classificar o que faz bem e mal.