Os últimos anos têm sido anos de grandes desafios para todos. Atravessámos uma crise pandémica e entrámos agora numa crise inflacionista. A Europa voltou a ter a guerra às suas portas e com isso a subida dos preços de matérias-primas, nomeadamente energia e bens alimentares. Esta tendência de subida de preços, que no início se pensava transitória, poderá tornar-se estrutural, caso exista o contágio para a subida dos salários. Em qualquer dos casos, os Bancos Centrais entraram na fase de retirada de estímulos económicos sendo o seu efeito mais visível a subida das taxas de juro. Com isto, as famílias e as empresas irão ser confrontadas com a subida do custo com créditos, especialmente porque temos preferido a contratação de créditos a taxas variáveis. Em breve teremos a necessidade de reestruturação de créditos e eventuais incumprimentos.
Como percebemos, o contexto é muito desafiante. Podemos arriscar-nos a dizer que vivemos em Portugal de crise em crise há muitos anos, o que é patente nos fracos níveis de crescimento económico, numa economia que é muito dependente do consumo e do endividamento. Facilmente percebemos que temos um modelo económico insustentável e que não poderá suportar o peso crescente do Estado e dos apoios sociais, com as pensões de velhice a encabeçar.
Este contexto tem levado cada vez mais pessoas a questionar-se sobre o sentido das suas vidas profissionais, tendo a pandemia aumentado a reflexão sobre o trabalho e a relação dos trabalhadores com o dinheiro. Assim, tem-se reforçado o movimento daqueles que procuram o FIRE ou a independência financeira, algo que parece uma utopia. Na prática, procuram atingir a liberdade financeira, situação em que deixarão de ter de contar com o rendimento do trabalho para suprir as suas necessidades e atingir os seus objetivos. Parecendo impossível, o certo é que este movimento tem crescido em popularidade e não faltam histórias de sucesso, especialmente se considerarmos que o sucesso, para estas pessoas, muitas vezes está no caminho e nas pequenas conquistas e não tanto na ideia de vivermos reformados a olhar para o televisor.
Trazemos o FIRE [financial independence, retire early] para este fórum porque nos pode dar algumas ideias e ajudar a refletir sobre alguns temas especialmente relevantes em momentos de crise. Para tal, é fundamental conhecer os seus princípios. Em primeiro lugar, a importância de gastar menos do que ganhamos, algo que sendo evidente tem sido esquecido, como mostra a subida do nível de endividamento das famílias. De notar que, para os adeptos do FIRE, o esforço deve centrar-se em aumentar ao máximo a taxa de poupança, o que exige esforço e muito rigor. Exige cortar gastos e baixar o nível de despesa, o que não é sinónimo de baixar o nível de vida. Em segundo lugar, a importância de investir a poupança em soluções de baixo custo e com risco, de modo a obter rentabilidade. De salientar que se queremos ter rendimentos passivos (por o dinheiro a trabalhar para nós), temos de assumir riscos, porque o risco tende a compensar com o retorno. Em terceiro lugar, perceber o esforço intencional para atingir os objetivos. Ou seja, os sacrifícios que fazemos na gestão das finanças pessoais devem ter uma finalidade. Devem estar orientados para atingir os objetivos da família, sejam eles a ideia de segurança financeira, de concretização de sonhos ou simplesmente de prudência, de modo a vivermos mais tranquilos.
É certo que o ambiente de inflação que estamos a viver (e que iremos viver durante mais uns tempos) é um momento de sacrifícios. Tudo vai ficar mais caro. Vamos voltar a ter de tomar opções e de assumir maior rigor na gestão do nosso orçamento familiar, confrontando-nos com aquilo que é fundamental e aquilo que podemos deixar cair. E que assumamos o controlo do nosso dinheiro. Para isso, é necessário que procuremos aumentar os níveis de literacia financeira, para que seja possível tomar melhores decisões, reconhecer a necessidade de poupança e a importância do investimento, tendo como certo de que não precisamos de ser ricos para começar a investir. Viver melhor está ao alcance de todos. É isso que vivemos na Reorganiza, onde ajudamos as famílias a melhorar a sua relação com o dinheiro e a aumentar a sua liberdade financeira.