Os primeiros meses do ano são meses que tendem a ser caracterizados pelas célebres resoluções de Ano Novo. Objetivos que traçamos. Planos que fazemos. Enganos que nos impomos. Cada pessoa tem os seus objetivos e é muito meritório que os consiga definir com rigor. É o primeiro passo, que tem de ser materializado no dia-a-dia com mudanças concretas de comportamento pois, como sabemos, somos ótimos a fazer planos de longo prazo, mas quando chega a hora da verdade, desistimos ou procrastinamos.
Dentre o conjunto de objetivos financeiros costumam surgir as ideias de poupar mais dinheiro. Cortar custos. Reduzir o endividamento. Investir. Tocamos os vários pilares, pois precisamos de controlar o destino que damos ao nosso dinheiro, para que seja possível mudar comportamentos e criar hábitos de consumo e de poupança que sejam duradouros.
Depois dos objetivos, a realidade acontece-nos. Aliás, fomos agora brindados com a subida das taxas de juro, uma variável que tem um grande impacto na economia, nos orçamentos das empresas e das famílias. Não é que esta subida seja uma surpresa, pois sabíamos que teria de acontecer mais cedo do que tarde, especialmente se estivéssemos atentos à subida galopante do nível geral de preços. A aparente surpresa é a rapidez da subida, talvez apanhados desprevenidos pela inversão repentina do discurso do BCE. Não sabemos a extensão do ajuste mas sabemos que o ambiente de taxas de juro negativas irá ficar para trás.
Num contexto como o atual, temos de tirar conclusões para as nossas finanças pessoais. Em primeiro lugar, percebemos a necessidade de estarmos preparados para mudanças de circunstâncias, o que passa por dispormos de poupanças para emergências. Em segundo lugar, poderá ficar claro que não será mau assumir uma postura de prudência, o que passa por vivermos com menos do que recebemos e poupar/investir a diferença e ser muito criteriosos nas decisões de consumo, em especial aquelas decisões com consequências em prazos mais longos.
Podemos ser tentados a pensar que o “paliativo” que vem com os fundos comunitários e planos de resiliências e Portugal 2030 e outros que tais irá resolver os problemas. É certo que os fundos que nos irão emprestar (o verbo é emprestar, o que implica uma devolução com juros) podem disfarçar algumas das nossas fragilidades, mas temos de pensar que os problemas não se resolvem por decreto. Ou atirando-lhes dinheiro para cima. Aliás, convém não esquecer que precisamos de ter projetos com credibilidade e dimensão para absorver estes fundos. E precisamos de empresários com capitais próprios e desejo de investir, o que também poderá ser um desafio.
Contas feitas, percebemos que as resoluções de Ano Novo não serão fáceis de implementar. Mas percebemos com toda a clareza que a palavra de ordem para 2022 terá de ser a prudência. Em finanças pessoais, prudência é sinal de poupança, de critério nas decisões e de conservadorismo. Não é uma mensagem popular, mas é do mais elementar realismo. O melhor é que depende exclusivamente de nós próprios. Estará ao seu alcance?