Quase um ano passou desde o início da pandemia de Covid-19. Ainda sem perspetiva do regresso a uma dita normalidade, e agora com o retorno a um novo confinamento, são cada vez mais as empresas que começam a observar o trabalho remoto não como uma medida extraordinária, mas antes como uma alternativa viável a longo prazo – de acordo com o relatório ‘Teletrabalho: Tendências e Políticas em 2021’ desenvolvido pela Aon, já mais de metade das empresas (58,67%) implementou uma política de trabalho remoto adaptada à nova realidade laboral.
Contudo, aquela que é apontada como a tendência de futuro do trabalho e uma clara vantagem para a prossecução de uma visão de recursos humanos focada no maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional dos colaboradores pode, em boa verdade, levantar diversos desafios na ótica da gestão de pessoas, nomeadamente ao nível da saúde mental.
Apesar das organizações terem vindo a investir cada vez mais em políticas de saúde mental junto dos colaboradores – integradas, na maioria dos casos, em programas holísticos de promoção da saúde e bem-estar – a verdade é que a extensão do período contínuo de teletrabalho está a levantar algumas questões no que respeita às condições em que diversas pessoas têm exercido a sua atividade – com os especialistas a apontar para o impacto que cenários como o elevado número de horas de trabalho diário ou a falta do contacto de proximidade entre colegas estão a ter no bem-estar dos colaboradores, e até mesmo no aumento do risco de stress, ansiedade, depressão, ou até mesmo burnout.
Mas se este é um problema com consequências nefastas para os colaboradores, também o é para os próprias empresas, que veem a saúde mental impactar a sua atividade através da quebra da produtividade e da motivação da sua força de trabalho, bem como a constante rotatividade de colaboradores, fatores que acarretam custos significativos para o orçamento de cada organização – estima-se que o custo da saúde mental para o PIB dos Estados-membros da UE totalize cerca de 600 mil milhões de euros.
Considerando as variantes apresentadas (e tantas outras), a questão que se coloca agora é perceber de que forma as empresas podem responder de forma efetiva aos desafios que o contexto de trabalho remoto lhes coloca ao nível da saúde mental?
O ponto de partida passa por um claro reconhecimento do nível de resiliência dos colaboradores, ou seja, da sua capacidade de se adaptarem a situações adversas, de serem capazes de gerir o stress e de se manterem motivados. Atualmente, e de acordo com um outro estudo da Aon, o Rising Resilient Report, as empresas ainda estão pouco preparadas para garantir a resiliência dos seus trabalhadores – uma premissa comprovada pelos apenas 32% dos colaboradores que são, de facto, resilientes. Para além do investimento na implementação de programas de apoio à saúde e bem-estar dos colaboradores que, apesar de crescente, ainda não é significativo – em 2020, apenas 38% das empresas tinham um orçamento para esta área – é necessário às empresas uma maior consciência para a premência do desenvolvimento de estratégias robustas que englobem medidas concretas de respostas aos cinco pilares de bem-estar – físico, social, emocional, profissional e financeiro.
Para a saúde mental propriamente dita – e num contexto de trabalho remoto isso ainda é mais evidente – o segredo para o sucesso de uma estratégia nesta área está no engagement que é gerado com os colaboradores, não só no sentido de promover uma recorrente auscultação das suas necessidades, como também para envolvê-los num maior espírito de equipa e pertença. A este contexto deve juntar-se, igualmente, uma forte liderança, que apoie e seja transparente, e que promova maior felicidade e comprometimento dos colaboradores com o seu trabalho e com a missão da empresa.
Mas como se pode alcançar esse engagement quando as equipas estão distantes? A resposta passa pela perspetiva com que se olha para a tecnologia, que aqui pode ser mais uma aliada do que um obstáculo. É sabido que a tecnologia veio transformar a capacidade das organizações se conectarem e colaborarem com as suas equipas, e, neste âmbito, as apps podem representar um real incentivo a mudanças comportamentais positivas e promotoras da saúde mental plena – desde alimentação saudável ao exercício, até ao mindfullness e ao sono. Outro exemplo é a utilização de portais sociais internos para partilhar conquistas, promoções e discussões informais, e que incentivam os colaboradores a sentirem-se mais envolvidos e conectados.
Uma coisa é certa: os negócios do futuro são aqueles que constroem resiliência dentro das suas equipas para que estas possam atingir o seu potencial. Apostar na saúde mental dos colaboradores – e, de um modo geral, no seu pleno bem-estar – é também uma aposta clara no sucesso do negócio. Porém, para que uma empresa possa promover uma cultura de bem-estar, não basta implementar um conjunto de soluções e esperar que as pessoas acedam ao que precisam. É necessário combinar serviços de apoio flexíveis com uma ideologia de empatia, cuidado e compaixão. Só assim a saúde mental será um desafio menos distante.