A crise causada pela Covid-19 fez acelerar muitas tendências que já se verificavam antes da pandemia e realçou junto de governos, empresas e investidores a necessidade de se seguirem políticas e estratégias mais sustentáveis. Essa preocupação está bem demonstrada nos grandes planos de recuperação nos EUA e na Europa, que têm o caminho para a neutralidade carbónica como um dos seus pilares principais.
A equipa de analistas do Credit Suisse defende que a crise pandémica demonstrou a importância de se adaptarem os objetivos de desenvolvimento sustentável definidos pela ONU aos investimentos. E atualizou, com base nestes critérios, a lista das supertendências que irão definir o mundo no longo prazo e originar negócios com maior potencial de crescimento. Criou uma espécie de guia de como ganhar exposição aos setores que mais poderão lucrar com a reconstrução que o mundo terá de fazer no pós-pandemia.
“Os governos, os negócios e os cidadãos estão agora a analisar como podem ‘reconstruir melhor’ no mundo pós-Covid”, salienta o diretor global de investimento do Credit Suisse, num relatório a que a Exame teve acesso. Michael Strobaek acrescenta que “a pandemia acabará por passar à medida que a vacinação for implementada, mas o mundo irá manter este objetivo firmemente em mente para abordar os desafios que se avizinham no nosso futuro comum. Os investidores podem desempenhar um papel importante, direcionando o seu capital para soluções de investimento que participam neste esforço”.
Mas quais são as grandes tendências que irão ajudar o mundo a atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável e que, em simultâneo, permitem perspetivas de ganhos de longo prazo para os investidores?
Descarbonização
O “verde é o novo ouro”, argumentam os analistas do Credit Suisse. Muitas das munições das bazucas da UE e dos EUA para recuperar a economia são direcionadas para a transição energética, pelo que as empresas que estejam mais bem preparadas na corrida pela descarbonização deverão sair beneficiadas e ser premiadas pelo mercado.
Nesse grupo incluem-se, segundo o banco suíço, as “principais empresas de energias renováveis (eólica, solar, hídrica, etc.) e outros fornecedores de tecnologia de armazenamento de eletricidade e produção de energia sem CO2”. Entre as principais vencedoras estarão as cotadas que consigam resolver a “quadratura do círculo”, isto é, que garantam a transição energética sem comprometer a distribuição de dividendos.
Ainda nesta tendência, o Credit Suisse destaca pela positiva as “sociedades e empresas de tecnologia de captura de carbono envolvidas na melhoria da capacidade de hidrogénio azul e verde” e as entidades envolvidas nos transportes e que tenham “um forte compromisso para com a redução de CO2”. No grupo de setores que irão beneficiar com a tendência da descarbonização estão ainda “as empresas de transformação de carne com baixas emissões de gases com efeito de estufa e fornecedores de produtos alimentares de origem vegetal”.
Infraestruturas
OO relançamento da economia mundial será assente no investimento em infraestruturas que permitam fazer uma transição para uma sociedade de carbono zero e muito mais digitalizada. Assim, esta é outra das grandes tendências identificadas pelo Credit Suisse.
“Estão a ser feitos esforços para investir em infraestruturas sustentáveis para sistemas de transporte, energia e telecomunicações em países desenvolvidos e emergentes. As despesas com incentivos para infraestruturas nos EUA para a construção de sistemas de transporte, redes 5G e edifícios inteligentes e eficientes em termos energéticos devem apoiar empresas de operadores de construção e infraestruturas”, afirma a equipa de analistas da mesma instituição.
Sociedades ansiosas
Algumas das consequências da pandemia foram a aceleração das desigualdades e a demonstração da necessidade de se investir mais em Saúde e em políticas sociais. “A pandemia da Covid-19 demonstrou ser um desafio económico adicional, e as mudanças com a segurança dos empregos, o aumento dos custos com a educação, aumento das despesas com os cuidados de saúde, assim como a segurança pessoal e pública encontram-se entre as principais prioridades para várias pessoas em todo o mundo”.
Um índice desenvolvido pelo Credit Suisse para medir a ansiedade social mostra que o descontentamento continua a aumentar. E o banco cita uma sondagem da Ipsos que conclui que, apesar de haver uma menor preocupação com a Covid-19 face ao que se verificava em abril do ano passado, “aumentaram significativamente as preocupações sobre crime e violência, corrupção, pobreza, desigualdade social e desemprego”.
Os grandes planos de recuperação anunciados pelas maiores economias do mundo tentam atenuar esses impactos. E há economistas a defender que esta é a altura de os estados se chegarem à frente e aumentarem o seu raio de ação para ajudar a sarar as cicatrizes desta crise e encaminhar o mundo para um futuro mais sustentável.
No entanto, os analistas do Credit Suisse defendem que “essas iniciativas não podem ser baseadas em modelos de maior dimensão do Estado, já que os governos já estão a gastar as receitas com impostos das gerações futuras”. Consideram que “há mutas soluções privadas e empresas que estão a responder de forma inovadora para ajudar no acesso às necessidades mais básicas e críticas, como a habitação, a educação, a saúde a alimentação”.
Nesse sentido, considera que as empresas que que oferecem soluções para baixar os custos dessas necessidades básicas sairão ganhadoras. Incluem ainda entre os grandes beneficiários desta supertendência, as cotadas que “proporcionam requalificação/valorização das competências ou educação à medida que as necessidades ao nível das competências mudam radicalmente” e “que ajudam a melhorar a segurança dos cidadãos – incluindo a prevenção da Covid”.
Tecnologia
A tendência de uma economia cada vez mais assente na tecnologia já se observava antes da pandemia. Mas acelerou de forma impressionante no último ano, o que se tem refletido na multiplicação de valor em bolsa das maiores tecnológicas do mundo. “A próxima fronteira será a ‘economia sem contacto’, uma vez que a remoção da interação física na comunicação, na vida e no trabalho das pessoas acelerou exponencialmente durante a pandemia da COVID-19 dominar no futuro”.
Nesta corrida a um mundo mais digital e com cada vez mais contactless, os maiores ganhos pertencerão, segundo o Credit Suisse, a “empresas de software, serviços e plataformas de tecnologias de informação que servem a ‘indústria sem contacto’ e são catalisadores de pagamentos digitais, inteligência artificial (IA), realidade virtual (RV), realidade aumentada (RA) e processos de automatização industrial”. Na lista estão ainda “fornecedores de serviços e soluções de IA para utilização em áreas tão diversas como cuidados de saúde e educação”.
Economia da terceira idade
Os analistas do Credit Suisse citam projeções que apontam que até 2050 a “população sénior mundial irá duplicar para mais de dois mil milhões de pessoas”. E preveem que “esta mudança irá criar procura, mas também revelar desafios que exigem soluções inovadoras – nos cuidados de saúde, seguros e no mercado de consumo e imobiliário”. Além disso, salientam, “os avanços no desenvolvimento de vacinas durante a pandemia irão, provavelmente, acelerar outros esforços de investigação centrados em algumas das condições de saúde mais desafiantes, tais como oncologia ou doenças neurológicas”.
Assim, os especialistas do banco suíço recomendam a aposta em “empresas biofarmacêuticas, de tecnologia médica e ciências da vida que abordam as condições que afetam os idosos através de produtos inovadores, tais como imunoterapias ou conjugações anticorpo-fármaco”. Incluem ainda na lista das empresas que poderão beneficiar com a economia da terceira idade “os prestadores e operadores de residências para idosos, organizações de gestão de cuidados de saúde e operadores de telemedicina que podem encaminhar os doentes para ambientes de cuidado mais eficazes” e as “companhias de seguros de vida e de saúde, consultores de private wealth e gestores de ativos com forte capacidade de fixação de preços”.
Geração Millenial
A instituição helvética prevê que “a sustentabilidade e o consumo responsável devem continuar a prosperar graças à influência da geração millenial”. E antevê ganhos para as “empresas que estão em sintonia com o comportamento ecológico da geração millenial no que respeita à proteção da biodiversidade e do clima, alimentação sustentável e saudável, consumo e produção responsáveis e energia limpa”.
A equipa de analistas do banco suíço destaca ainda pela positiva as “empresas que estão em sintonia com os valores da Geração Millenial no que diz respeito à diversão, saúde e lazer, e estão orientadas para os mercados emergentes, quer para marcas globais quer para marcas nacionais”.