Criaram, em conjunto, o podcast Ponto Zero, em que falam da importância da mentoria, e recentemente lançaram o livro O Acelerador de Carreiras. A EXAME convidou-as a refletir sobre o que é necessário fazer para manter em Portugal jovens como elas – profissionais que, apesar de quererem voltar um dia, cedo perceberam que precisariam de sair para garantir alguns dos seus objetivos de vida. Para estas duas executivas, as soluções não são assim tão complicadas, mas há pouco tempo para implementá-las, se quisermos pôr o País a crescer.
É em passo apressado e com o discurso bem estruturado que Mafalda e Sara se sentam no sofá do Martinhal Chiado, parceiro da EXAME na Girl Talk, e são perentórias na análise: além da necessidade óbvia de melhores salários, é preciso também que as pessoas sejam formadas para escolher o que querem fazer, onde e como o querem fazer, pensando nas suas carreiras de uma forma integrada e não tendo em conta apenas uma variável: dinheiro, experiência internacional ou outra. “É preciso fazer o exercício de refletir sobre o que nos espera” em cada uma das opções, salienta Sara, mas, acima de tudo, era importante que a decisão fosse tomada em liberdade, que é como quem diz: se os jovens decidem ir para fora de Portugal, que o façam porque é o que desejam e não porque é uma inevitabilidade.
Atualmente, concordam ambas, para se conseguir alguma qualidade de vida, um salário idêntico aos congéneres europeus e um estilo de vida que lhes permite não trabalhar apenas para viver, é preciso emigrar. Defendem uma profunda reformulação do modelo educativo – à semelhança do que já se faz em escolas como a Tumo ou a 42 Escola –, e pedem mais atração de investimento para Portugal, mas “com responsabilidade social. Não queremos o investimento que paga muito bem a quem vem, mas acaba por excluir quem cá está, como aconteceu na Irlanda”, nota Mafalda. Pedem mais enfoque na inovação, com fortes incentivos à Ciência e à tecnologia, por forma a colocar Portugal no mapa, mas também a valorizar “os talentosos profissionais que existem no País”.
E pedem ainda que os mais jovens sejam chamados às tomadas de decisão, uma vez que muitas políticas falham, também, porque não estão pensadas para quem delas pode beneficiar. “Somos um País pobre. É preciso dizê-lo. São precisas cinco gerações para alguém que vem de uma família pobre sair desse patamar. É um flagelo”, conclui Mafalda. Para Sara, a vontade de regresso é clara, mas não vai ser feita a todo o custo. É por isso que ambas se envolvem em projetos que tentam dinamizar empresas e Estado, na tentativa de tornar Portugal mais atrativo para quem saiu. Uma conversa animada e com muitas ideias dignas de nota, que pode ver aqui ou ouvir nas principais plataformas de podcast.