Quando falamos de comunidades, e partindo da sua própria etimologia (do latim communitates – relativo ao que é comum; participação conjunta), falamos de grupos de pessoas que partilham algo em comum (ou porque vivem na mesma área ou porque partilham interesses ou nacionalidade), capazes de construir uma narrativa conjunta.
Em Sapiens: A Brief History of Humankind, Yuval Noah Harari fala, a determinado momento, na cooperação social enquanto fator-chave para a nossa sobrevivência e reprodução. Neste contexto, as comunidades, na qualidade de modelo de cooperação social e de passagem de conhecimento, têm desempenhado um papel importante.
Com o tempo, o termo “comunidade” tem vindo a ganhar força, tanto no meio social como no meio político e corporativo. Isso não se dá por mero acaso: com a globalização e a entrada em força das novas tecnologias (só para enumerar alguns pontos que, de alguma forma, contribuíram para que tal acontecesse), é apenas natural assistirmos, por um lado, a uma maior facilidade de comunicação e alargamento das nossas redes, criando novas oportunidades de partilha de conhecimento, e, por outro, a uma alteração do paradigma da forma como nos relacionamos, levando a uma crescente necessidade de proximidade, interações reais e de sentido de pertença.
Se queremos fomentar uma cultura que valoriza a diversidade e a cooperação (e é imperativo que o façamos), então temos de criar uma cultura inclusiva
E é com o reconhecimento desta inerente necessidade humana de interações sociais ‒ e da cooperação enquanto caminho para o desenvolvimento e resolução de problemas (temos o caso recente da cooperação internacional para fazer frente à Covid) ‒ que, além das comunidades naturais, derivadas do nosso contexto geográfico e cultural, começamos cada vez mais a ver nascer novos tipos de comunidades, como é o caso das comunidades de aprendizagem e das comunidades de inovação, temas para os quais a colaboração é indispensável. Considerando a velocidade de mudança que vivemos atualmente e o envelhecimento da população (em Portugal, os dados obtidos pelos Censos 2021, publicados pelo Instituto Nacional de Estatística, I. P., revelam um aumento expressivo da população idosa, com 100 jovens portugueses para 182 idosos), assistimos à necessidade crescente de uma constante requalificação e de uma aprendizagem contínua ao longo da vida. Torna-se, assim, cada vez mais premente que a educação tradicional abra espaço a outros formatos, como as comunidades de aprendizagem, onde a partilha de experiências e práticas permita alargar o conhecimento coletivo, melhorar competências e acelerar o impacto dessas aprendizagens e conhecimento na sociedade.
Neste contexto, a partilha, a colaboração e a diversidade são premissas inegociáveis. No entanto, quando nos propomos juntar diferentes atores, sabemos que isso pode ser um desafio. Por isso, se queremos fomentar uma cultura que valoriza a diversidade e a cooperação (e é imperativo que o façamos), então temos de criar uma cultura inclusiva, encorajando a participação de um leque mais alargado de participantes.
No caso da comunidade do Ecossistema de Inovação da Nova SBE, que junta empresas, alunos, investigadores e inovadores “nativos”, procuramos constantemente criar espaços colaborativos que incentivam interação e a troca de ideias, proporcionando oportunidades de trabalho em rede e momentos que facilitem as ligações entre os membros da comunidade, dando voz a diferentes protagonistas com um interesse comum ‒ a inovação e o seu impacto na sociedade.
Numa era em que estamos sobrecarregados com conteúdos e informações, mantém-se intacta a preocupação em garantir que somos relevantes para a nossa comunidade, na medida em que queremos que esta encontre um espaço para refletir sobre questões prementes. É através do debate aberto, em que intencionalmente se juntam pessoas que podem divergir entre si, que cada um pode ser construtivamente “provocado” pela oposição do outro, permitindo a ambos os lados obter conhecimentos profundos que possam realmente contribuir para um mundo mais sustentável.
Por outras palavras, procuramos constantemente reforçar o papel da Academia enquanto catalisador de uma abertura intelectual e pensamento cruzado que permita um desenvolvimento da inovação mais inclusivo e ponderado. De outra forma, estamos apenas a estreitar o nosso campo de ação e, assim, acabamos a tender para as mesmas soluções, que não dão resposta aos problemas coletivos que queremos ver resolvidos. E é precisamente esta profunda base de existência coletiva, desde que o Homo é Sapiens, que torna incontornável um olhar atento ao papel das comunidades.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.