Saiu do Feitoria, no Altis Belém, para o Exuberante, no Porto, em agosto deste ano, e já está a dar cartas. A antiga sous-chef do Feitoria (restaurante que tem uma estrela Michelin) apresenta na unidade da Invicta uma carta com foco nos vegetais e nos sabores portugueses, e é toda uma surpresa do início ao final da refeição.
“Não quero ter um restaurante onde as pessoas nem sequer pensam em comer sobremesa, porque já esgotaram o seu orçamento na refeição. Ou ao qual não possam voltar, por causa do custo”, diz a uns clientes que a parabenizam do final da refeição.
A cozinha, visível da sala com 60 lugares, é um lugar sereno e eficiente. Na sala, o serviço é afável, rápido e solícito. A simpatia do Norte é visível, e é com calma que se recebem os clientes, e se lhes explica quais as opções que têm à disposição. A carta é refrescantemente curta. E simples. Nas entradas, cinco opções: pão feito no próprio restaurante, manteiga de Esposende e azeite virgem do Douro; Empada de beringela; Tomate, stracciatella, azeitona, azeite biológico e cebolinho; curgete, hortelã e sardinheiras ou tarte de cebola assada na brasa. Os preços variam entre os €4 e os €11, tudo em doses generosas, mais do que suficentes para duas pessoas – com exceção da beringela, que vem numa dose individual.
Nos pratos do mar e da terra, novas seis opções: peixe do dia, camarão de Peniche, lula grelhada, entrecôte maturado, lombo de novinho ou porco bísaro e quatro opções de pratos de origem vegetal: Cuscos de Vinhais, tomate de temporada assado, alface romana e chimichurri; Arroz de Grelos; Coração de couve com gnocchis de batata doce ou Tortellini de cogumelos com cremoso de espinafres.
O arroz de grelos ganhou o nosso coração – é absolutamente de ir ao céu, perfeitamente confeccionado, com brócolos e com a complexidade suficiente para ser um prato principal. Hesitámos bastante, mas por sugestão do serviço lá o experimentámos e acabou por ser – sem surpresa para quem no-lo apresentou – o nosso preferido.
Nota para a qualidade dos ingredientes, da estação e de produtores nacionais e preferencialmente locais. Dois pratos (os preços variam entre os €12 e os €27) que podem ser partilhados e uma sobremesa (€6) que também pode ser partilhada e garantimos que sai não apenas deliciado com a comida mas, acima de tudo, muito satisfeito. Doses justas, numa altura em que os restaurantes parecem cobrar mais por cada vez menos.
A carta de vinhos é interessante, com várias opções a copo e destaque para os produtores nacionais, apresentados de forma clara e simples para apreciadores que não estejam familiarizados com as características dos mesmos (Brancos leves, complexos…).
“Quero muito que as pessoas venham mais do que uma vez aqui”, continuará a chef a dizer. “Mesmo que para isso tenhamos de comprometer um bocadinho as margens. Porque, a longo prazo, vai compensar”.
Já é muito raro, nos dias que correm, irmos a um restaurante novo e termos vontade de voltar. Seja porque os problemas com o serviço são cada vez mais notórios – e em Lisboa o problema é ainda mais evidente – seja porque a relação preço-qualidade está a ficar significativamente comprometida.
Encontrar um lugar onde temos a certeza de que queremos voltar porque tudo parece fazer sentido é, por isso, razão para celebração. Longa vida à chef Rafaela Ferreira, que tendo nascido em Viseu estudou na Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra, e passou pelo Hotel Casa da Ínsua antes de integrar o Feitoria, ao lado de André Cruz. Uma cozinheira a ter debaixo de olho.