O meu primeiro emprego foi entre 1965 e 1966, quando fui para Luanda, Angola. Naquela altura, havia muita emigração para África – que era diferente da que existia em França ou na Alemanha, em que os portugueses iam quase como sobrevivência. Ali, o objetivo era ganhar bem e ter uma vida melhor.
Na época, o Porto era cinzento, provinciano, e Luanda tinha tudo o que o Porto não tinha. Tinha cinemas ao ar livre, lindíssimos, tinha restaurantes e, depois, tinha uma vida muito agradável, sempre com muito calor. Era uma cidade muito bonita e parecia que estava sempre de férias.
Nessa altura, tinha 21 anos e fui com o meu marido, que era engenheiro e foi trabalhar para os caminhos de ferro de Angola. E eu, como mulher, fui acompanhá-lo, deixando a meio um curso de Filologia Românica, em Coimbra, para grande desgosto do meu pai.
O meu primeiro emprego foi a dar aulas de Francês num instituto de secretariado. Como tinha sido mãe, dava aulas ao final da tarde ou à noite, o que me dava muito jeito. Assim, o bebé ficava comigo de dia e, à noite, com o pai. Só que acontece uma coisa: é que eu não gosto de ensinar. E, portanto, não gostava nada daquele emprego, mas dava muito jeito na altura. Quando se gosta daquilo que se faz, tudo sai bem e custa menos; agora, quando não se gosta, o esforço é extra. Eu tinha de fazer um grande esforço para que os meus alunos não percebessem que eu não gostava de ali estar. Não era correto de outra forma.
O instituto pertencia a um casal conhecido, e a senhora tinha uma figura muito corpulenta, que assustava. Foram cerca de dois anos e meio ali. Terminei esse trabalho porque o meu marido mudou de emprego, em Angola, e tivemos de sair de Luanda. Apesar de não ter gostado nada dessa profissão, aprendi muitas coisas. Uma delas foi que o trabalho recompensa sempre. Quanto mais de nós pusermos na nossa profissão, mais recompensadora ela se vai tornar para nós. Tanto que, quando cheguei ao fim dessa experiência, até já parecia que gostava de ensinar. Sempre quis passar a ideia, para os meus alunos e para os patrões, de que não estava ali só para executar uma tarefa. E sempre me mantive assim nos outros trabalhos que fui tendo. E a vida tem-me dado tanto, tenho tido uma recompensa extraordinária.
Em termos palpáveis, não acho que o meu primeiro emprego enquanto professora tivesse tido importância nas minhas funções a seguir, porque foram totalmente diferentes. Mas certamente me deixou marcas e trouxe ensinamentos que apliquei no meu futuro, sem dar por isso. Por volta de 1971, voltei ao Porto, para trabalhar com o meu pai, enquanto acabava o meu curso em simultâneo. Depois, fui corretora de bolsa e criei uma sociedade que viria a transformar-se, anos mais tarde, no Banco Carregosa, em 2008. Um banco de pequena dimensão, mas muito focado na eficiência e no trato com os clientes. É como se fosse um filho, para mim.
E agora, neste momento em que me encontro, olho para trás e vejo que tenho uma vida inteira que já passou por mim e só desejo que a que ainda me resta seja, pelo menos, tão simpática como a que passou.