Nem tudo são más notícias quando olhamos para os últimos 35 anos da economia portuguesa, mas até as boas notícias parecem não ter sido suficientemente boas para dar um impulso qualitativo à economia portuguesa nesse período temporal.
“Houve um salto enorme na educação no espaço de uma geração”, disse Joana Pais, vice-presidente do ISEG, na conferência Portugal em Exame, destinada a assinalar os 35 anos da revista Exame, que decorreu esta terça-feira. Mas, como ressalvou, essa melhoria na qualificação, principalmente dos mais jovens, “não foi absorvida pela economia”, já que continua a verificar-se “um desajustamento entre as competências dos portugueses e aquilo que os seus postos de trabalho exigem. Quase 28% dos trabalhadores são sobrequalificados para a função que exercem”, notou.
Salientando a “incapacidade de fazer com que o enorme investimento em capital humano se reflita em produtividade” que, três décadas e meia depois continua praticamente no mesmo ponto em que se encontrava em 1989 face à média europeia, a economista apontou também a “compressão nos salários”, particularmente no salário médio, auferido por cerca de dois terços dos portugueses – e que atualmente se encontra em 1 443 euros brutos -, para explicar a saída continuada dos jovens mais qualificados para o exterior. “Todos os anos perdemos um quarto dos licenciados”, disse.
Atualmente, quase metade dos portugueses apresentam os ensinos secundário (26,2%) e superior (23,2%) completos, quando em 1989 apenas 10% dos habitantes tinham completado o ensino secundário e 6% o ensino superior. Mas é na população jovem, com idades entre 25 e 34 anos, que a evolução é maior: mais de 40% têm o ensino superior, e outros 40% o ensino secundário completo.
Olhando em retrospetiva para o tecido empresarial português, Joana Pais constatou que “as grandes empresas, que são poucas, absorvem apenas cerca de 20% da mão de obra” em Portugal. São as pequenas e, sobretudo, as micro empresas que empregam a maioria dos trabalhadores, o que também não contribui para reter o talento jovem. “O tecido empresarial também não mudou muito desde 1989”, concluiu.
Estes indicadores parecem explicar, em parte, os resultados de um estudo sobre a confiança interpessoal dos europeus, que indicam que, em Portugal, 79% das pessoas confiam pouco naqueles com quem se relacionam – um valor ao nível de países como a Roménia, Bulgária e Croácia. “Nos países com maior PIB per capita, confia-se mais”, disse ainda Joana Pais, dando como exemplo os países nórdicos, onde a confiança interpessoal atinge os valores mais elevados.
Joana Pais trouxe um panorama da economia portuguesa ao longo dos últimos 35 anos, desde que a Exame começou a ser publicada em Portugal. Este foi um dos temas da Portugal em Exame, conferência anual da Exame que se realizou esta terça-feira, no auditório Américo Amorim, no edifício Allo, da Galp, e contou com o apoio do Bankinter e da KPMG.