Um número recorde de 50 mil novas empresas foram criadas em 2023, representando mais 48% do que em 2013. Nesta última década, foram registadas 440 mil novas empresas em Portugal, um valor que leva Perla Pinto, diretora de operações da Informa D&B, a concluir que “o empreendedorismo está de boa saúde”.
Analisar o ADN do empreendedor e perceber o que leva alguém a criar uma empresa de sucesso, a partir do zero, foi o tema do segundo painel da conferência “Empresas: Nascer & Crescer” mas, antes, a responsável da Informa D&B apresentou as conclusões de um estudo, que vai já na 5ª edição, sobre o nascimento de empresas em Portugal.
Os dados mais recentes indicam que 7% das empresas têm até um ano de vida, representam 1,5% do emprego e 0,4% do volume de negócios a nível nacional. Se somarmos as empresas com até 5 anos de existência, ficamos com mais de um terço das empresas, 15% do emprego e 9% do volume de negócios.
Entre 2018 e 2022, foram criados em média, por ano, 44 mil empregos pelas novas empresas. Só nesse último ano, em que foram criados 329 mil postos de trabalho em Portugal, as empresas nascidas há menos de um ano foram responsáveis por 14% do total.
Tem sido nos transportes, imobiliário e construção que mais sociedades estão a ser criadas, por oposição ao retalho (alimentar, saúde e bem estar), indústria ( sobretudo têxtil e moda) e atividade grossista, que desceram para o final da tabela. Curiosamente, em 2013, era quase o inverso. O retalho liderava a criação de empresas e os transportes surgiam no 11º lugar da tabela.
A conferência “Empresas: Nascer & Crescer” é uma iniciativa em parceria com a Informa D&B e com o apoio da Capgemini e da PLMJ. Nesta iniciativa, 14 Empresas de Crescimento Elevado foram distinguidas.
De acordo com Perla Pinto, há uma reconfiguração no perfil do investidor: 93% dos sócios das novas empresas são pessoas individuais e, entre eles, quase 70% nunca tinham sido proprietários de sociedades. A esmagadora maioria (97%) detém participação em apenas uma empresa, 68% são homens e 21% são estrangeiros.
Mas não há só casos de sucesso. Apenas 69% das empresas criadas em 2012 se mantiveram ativas no primeiro ano de vida. Mais de 52% passaram de empresas jovens (1 a 5 anos de vida) para adultas (6 a 19 anos) mas, ao fim de dez anos, só 37% se mantinham em atividade.
No painel seguinte, os testemunhos de Jochen Michalski (fundador e presidente do grupo Harv81), Pedro Pimenta (co-fundador do KuantoKusta) e Rafael Ferreira (co-fundador da Miio), ajudaram a perceber como se constrói uma empresa de sucesso a partir do zero.
Para Jochen Michalski, que há 40 anos correu as adegas de São Francisco à procura de compradores para as suas rolhas de cortiça, e hoje é acionista de um grupo de empresas que fabricam desde barris a rótulos de vinho nos EUA, Austrália e Portugal, faturando 160 milhões de euros por ano, a receita para ter sucesso é perseverança e investimento em investigação e inovação.
Com uma experiência de vida distinta, Pedro Pimenta, filho de emigrantes em França, chegou a Portugal em 2002 para abrir uma loja online de produtos informáticos com dois irmãos, mas quando perceberam que não existiam comparadores de preços, lançaram o KuantoKusta com um investimento inicial de 5 mil euros. Ao fim de quase duas décadas, a empresa continua a crescer, agora também como um marketplace, apesar dos desaires no Brasil e em Espanha. “Os empreendedores arrependem-se muitas vezes. É como atirar-se da falésia e construir um avião durante a queda. Quando nos atirarmos, temos de arranjar soluções”, afirmou. “É preciso muita resiliência para continuar a avançar e a desenvolver uma empresa. Mas quando as coisas correm bem, queremos sempre mais”, disse ainda.
Rafael Ferreira lançou a Miio depois de em 2018 ter demorado 12 horas a viajar entre Aveiro e o Algarve num carro elétrico. “A Miio nasceu como uma app para ajudar os condutores de carros elétricos, com informação sobre locais e preços dos carregadores nas vias públicas”, explicou. Entretanto, a empresa, que começou por ser um hobbie, financiou-se, cresceu, abriu o capital à Portugal Ventures e mais recentemente à Repsol. “ No empreendedorismo, a resiliência é fundamental para ultrapassar obstáculos e continuar a lutar. O caminho não é um mar de rosas”, disse, reconhecendo que o seu maior desafio foi mesmo liderar pessoas. “As primeiras contratações são fundamentais. O caminho faz-se em equipa”, acrescentou.