O inédito ataque direto do Irão a Israel poderia fazer supor uma forte pressão de subida nos preços do petróleo. Mas, no arranque desta semana, as cotações do ouro negro seguiam relativamente estáveis. Os analistas explicam que os investidores já estavam a incorporar nos preços a possibilidade de uma ação retaliatória por parte de Teerão, após o ataque de Telavive ao consulado do Irão na Síria no início de abril. E, para já, o mercado dá sinais de estar a apostar numa resposta contida de Israel o que, a confirmar-se, poderia prevenir uma grande escalada do conflito.
Isso refletiu-se na descida de cerca de 0,80% do preço do ‘brent’, referência para Portugal, esta segunda-feira para 89,78 dólares, aliviando do máximo de seis meses registado no final da semana passada. “Existem argumentos que sugerem que a resposta [de Israel] pode ser limitada”, observam os analistas do Goldman Sachs, numa nota a que a EXAME teve acesso. Referem que “a natureza bem telegrafada e relativamente limitada do ataque do Irão sugere que este foi calibrado para ter uma retaliação contida” e que “estão a decorrer esforços internacionais para limitar o risco de uma escalada militar, com o presidente Biden a enfatizar a natureza diplomática da resposta que planeia coordenar com os outros líderes do G-7”.
Apesar de os dados da negociação desta segunda-feira sugerirem uma relativa acalmia nos mercados, os preços do petróleo já negociavam em valores elevados devido aos receios de um cenário desse tipo. “Os mercados de energia continuam a ser o principal mecanismo de transmissão de conflitos e tensões regionais ao resto da economia mundial”, nota Neil Shearing, economista-chefe da Capital Economics. Numa análise a que a EXAME teve acesso, o especialista realça que “os preços do ‘brent’ já tinham subido de 83 dólares para 90 dólares na semana passada, impulsionados em parte pelas preocupações sobre a oferta e os riscos geopolíticos dos conflitos no Médio Oriente e na Ucrânia”.
Warren Patterson nota, por seu lado, e citado pela Reuters, que “o ataque já estava bastante incorporado nos preços nos dias que o antecederam”. O diretor de análise de matérias-primas do banco ING salienta que o facto de os danos do ataque terem sido limitados “podem significar que a resposta de Israel seja mais comedida”.
No entanto, facilmente esta aparente tranquilidade dos mercados pode ser interrompida, tendo em conta o ambiente de alta tensão que se verifica no Médio Oriente e o cenário de guerra na Ucrânia. Mesmo com a comunidade internacional a tentar colocar água na fervura, o facto é que este foi o primeiro ataque direto do Irão a solo israelita. Os analistas do Goldman Sachs admitem “que não se responder firmemente a um ataque deste tipo poderá ser visto como um precedente perigoso e seria inconsistente com o anterior ‘modus operandi’ de Israel”.
Os especialistas do banco americano não descartam que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e seus aliados, como a Rússia, podem cortar mais a produção para fazer valer os seus pontos geostratégicos. Também Teerão corre o risco de ver a sua exploração de petróleo – destinada sobretudo para a China – afetada. O Irão é responsável por 3,3% da produção mundial. Além disso, ambos os conflitos podem afetar infraestruturas de produção, refinação e o transporte de produtos petrolíferos. E, num ambiente geopolítico altamente inflamado, qualquer faísca pode levar a uma escalada rápida dos preços.