Os ingredientes para que uma empresa seja considerada boa para se trabalhar não mudaram muito ao longo dos últimos anos. A segurança, a diversidade, a missão e o propósito, a colaboração e o orgulho na organização são os fatores mais destacados pelos funcionários das empresas que integram a lista das 50 Melhores para Trabalhar em Portugal (MEPT). No entanto, começa a afirmar-se uma tendência a sugerir algumas distinções entre as organizações que estão nas 25 primeiras posições e segunda metade do pelotão.
“Em 2023, comparando a classificação destes critérios entre todas as empresas e as empresas do top 25 do ranking, estas últimas são, tendencial e significativamente melhores em RSC [responsabilidade social e corporativa] e work-life balance. Também são tendencialmente melhores em 2023, embora em menor intensidade, em capacidade de traçar objetivos claros ao colaborador (avaliação de desempenho adequada), bem como em reconhecimento do trabalho dos colaboradores, salários & benefícios, humanidade, transparência e honestidade”, indica a edição deste ano do grande estudo conduzido pelo ManpowerGroup Portugal – que analisa um universo de mais de 17 124 colaboradores –, sendo os resultados posteriormente analisados pela Escola de Negócios AESE. Tal como nos anos anteriores, para integrar a lista das 50 Melhores Empresas para Trabalhar é necessário atingir um nível mínimo de satisfação. Esta iniciativa da EXAME vai já na sua 23ª edição.
Não faltam exemplos da procura de um maior equilíbrio nas empresas mais bem classificadas. Um dos casos é AstraZeneca, que lidera o ranking deste ano. A biofarmacêutica de origem inglesa criou, em 2023, um grupo de “embaixadores do equilíbrio”. Entre as várias funções estava a análise do equilíbrio da carreira profissional com a vida pessoal sob a perspetiva do work-life blend, já que com as equipas a laborar em modelo híbrido, ora em casa ora no escritório, este novo conceito reconhece que as fronteiras entre aquelas duas áreas podem ser mais flexíveis e coexistir harmoniosamente, enquanto se promove uma maior qualidade de vida.
Os resultados desta edição não diferem significativamente dos obtidos em anos anteriores. “Um conjunto significativo de sugestões dos dados deste estudo aponta para resultados semelhantes aos de 2022, confirmando-os. Isto é expectável, visto que o modelo de análise é o mesmo. Simultaneamente, e tendo em conta que o questionário às empresas foi aperfeiçoado, proporciona de algum modo uma nova confirmação de algumas conclusões anteriores”, indica o estudo. As empresas continuam a ter uma boa classificação no índice desenvolvido para se aferir se são bons sítios para se trabalhar. “A quase totalidade das empresas apresenta uma classificação no índice global MEPT acima dos 50%, com o top 20 a superar os 80%”.
Já o índice que reflete as mais de 80 questões feitas aos colaboradores posiciona quase todas as empresas acima de 70%. Aliás, de acordo com o estudo, “todos os 20 critérios apresentam valores sensivelmente entre os 80% e 90% (média do valor médio apurado para cada empresa)”. Como já se referiu, os cinco critérios mais bem classificados são: segurança, diversidade, missão e propósito, colaboração e orgulho nas empresas. No entanto, “as diferenças são relativamente ténues para outros critérios”. Ainda assim, o estudo identifica aqueles que são persistentemente menos pontuados, o que dá pistas importantes sobre os aspetos que podem requerer mais ação por parte das empresas. São eles o desenvolvimento do talento, a responsabilidade social e corporativa, a definição de objetivos claros, salários e benefícios ajustados e o reconhecimento do trabalho dos colaboradores.
Formação pode fazer a diferença

Outro indicador que aparenta separar o top 25 do resto das empresas está relacionado com a formação. As empresas mais bem classificadas dedicam “tendencialmente mais tempo à formação”, refere o estudo. No entanto, os autores da análise ressalvam que “há uma grande prevalência de empresas com, em média, até 45 horas de formação anuais por colaborador”.
A Sector Interactivo Group – que figura no top 15 do ranking das Melhores Empresas para Trabalhar – é um desses casos. O percurso de formação e de evolução de carreira é apresentado ao funcionário assim que este chega à empresa, por forma a conhecer todos os passos necessários a atingir os objetivos. A formação não se cinge apenas à componente mais técnica para cada função, já que a empresa oferece ainda ações de desenvolvimento pessoal, por forma a trabalhar as qualidades intrínsecas e as soft skills.
Apesar de, genericamente, as Melhores Empresas para Trabalhar investirem em horas de formação, ainda aparenta haver caminho a fazer nas iniciativas de responsabilidade social e corporativa. “De um modo geral, cerca de metade não dedica mais de uma hora anual por colaborador a iniciativas classificadas como RSC”, indica o estudo. Embora este seja um ponto em que as empresas ainda podem melhorar, há bons exemplos na lista das MEPT. É o caso da Zome. A imobiliária é muito ativa ao nível social e de impacto na comunidade, com iniciativas que agregam as equipas em limpezas de praias, ações de reflorestação e animações em lares de idosos.
Onde estão as Melhores Empresas para Trabalhar
Uma área em que se registaram algumas alterações no perfil das MEPT está relacionada com a região das empresas. “Em 2021 e 2022, notou-se uma menor presença de empresas do Norte e uma maior em Lisboa no top 25”, indica o estudo. “A diferença em 2023 é que a percentagem de empresas do Norte mantém-se nuns consideráveis 25% no top 25, mas ‘desaparecem’ as empresas do Centro”, substituídas por mais representantes da Grande Lisboa, especificam os autores da análise.
Nota-se ainda uma “maior presença de empresas de média e grande dimensão no top 25 do ranking global MEPT (quase 90%), em comparação ao total (em que as pequenas empresas ocupam quase 50%)”. Os autores contextualizam que “este resultado é expectável, na medida em que há alguns parâmetros de análise neste modelo que as pequenas empresas poderão ter mais dificuldade em preencher”.
Outra das conclusões é que há um menor peso de chefias nas MEPT: “No top 25, há uma maior percentagem de empresas com uma menor proporção de colaboradores em cargos de direção do que o verificado no total de empresas participantes”. Isso pode ser um reflexo da maior presença de médias e grandes empresas no top 25, possivelmente reforçado por terem uma estrutura mais otimizada.
As mais bem classificadas no ranking têm ainda uma presença mais repartida entre homens e mulheres, nas estruturas de direção. “No top 25, cerca de 60% das empresas têm entre 25% e 49% de mulheres em cargos de direção”, revela o estudo.

Média salarial mantém-se

Os millennials são o grupo demográfico mais presente na lista das Melhores Empresas para Trabalhar em Portugal, representando mais de metade da amostra. Já a geração Z – nascidos entre a segunda metade da década de 1990 e 2010 – começa a fazer-se notar, com um peso na ordem dos 5%, valores que são relativamente semelhantes aos da edição anterior. Outra similaridade é “a presença relevante de pessoas sem ninguém à sua responsabilidade direta, um possível reflexo do fenómeno gig economy”. Cerca de 85% dos funcionários das Melhores Empresas para Trabalhar tem um contrato sem termo. Já a média salarial, num ano marcado pela subida elevada da inflação, manteve-se semelhante à de 2022. Porém, nesse ano já havia existido um aumento face a 2021. “A média salarial situa-se no intervalo entre €1 000 e €1 500, embora com uma diminuição da percentagem de pessoas a auferir acima de €3 500 em relação a 2022”, refere o estudo. Num artigo de opinião que pode ler na página 28, Fátima Carioca, diretora da AESE Business School, realça, neste ponto, que “uma política salarial e de benefícios é mais eficaz quando alinhada com o desempenho e as oportunidades de evolução na trajetória profissional”.
Em jeito de conclusão, as 50 MEPT obtêm índices de satisfação elevados por parte dos funcionários e destacam-se em áreas consideradas essenciais à promoção do bem-estar e à progressão profissional dos colaboradores. Conseguir esta excelência é um fator crítico para se atrair e reter talento, numa fase em que este é uma matéria-prima cada vez mais disputada, não só ao nível nacional como também internacional. O estudo identifica critérios em que as empresas podem melhorar, mas, tal como já o provaram, muitas delas têm no ADN uma grande vontade de continuar a fazer mais e melhor.
