Talvez o exemplo mais flagrante seja o das bandeiras de Portugal com pagodes asiáticos ao invés dos castelos oficiais que, durante o Europeu de Futebol de 2004, enfeitaram as janelas de muitas casas, tal como Luiz Felipe Scolari pediu. Todos nos lembramos de como a nossa indignação cresceu na altura. O disparar do Turismo – e das lojas de “produtos tradicionais” a cada esquina – fez com que, entretanto, se tornasse relativamente comum encher os sacos dos consumidores mais incautos de sardinhas de cerâmica que não são da Bordallo Pinheiro, de galos de Barcelos que vêm de um pouco mais longe – da China, por exemplo – ou de pães de Rio Maior que nunca passaram pelo Ribatejo. O tradicional é cada vez mais difícil de distinguir, e a concorrência desleal para com os produtores que continuam a tentar ser o mais autêntico possível reflete-se sobretudo no preço que muitos compradores não entendem porque têm de estar dispostos a pagar.
Foi a pensar nisto, e também na necessidade de valorizar uma região que desde Eça de Queirós enche o imaginário dos amantes de Portugal, que a Associação Empresarial de Sintra e a Câmara Municipal de Sintra (CMS) se juntaram para relançar um projeto que, há algum tempo, já estava em cima da mesa: a certificação Made in Sintra. Este selo, que os produtores certificados podem depois usar nos seus estabelecimentos, nas embalagens dos seus produtos ou nas páginas que têm na internet, distingue a autenticidade, a qualidade e o melhor do que se faz em Sintra. “Mas também o sentido de comunidade”, diz a página oficial da iniciativa. Que é como quem diz: são ainda mais valorizados os produtores ou artesãos que trabalham em conjunto. É por isso que, a título de exemplo, já se fez cerveja com frutos vermelhos e que as provas de alguns vinhos são acompanhadas por pão de uma padaria específica. O projeto estimula o trabalho em comum, o que ajuda à divulgação cruzada entre consumidores que podiam não ser óbvios. Há duas formas de obter esta certificação: ou por convite das entidades que a promovem ou a pedido do próprio produtor. Em ambos os casos, uma equipa técnica faz uma avaliação da empresa e do produto em questão e toma uma decisão no prazo médio de uma semana.