Como um escocês sem carreira no setor automóvel chega ao topo da Volvo?
Como acontece em tantas coisas, há voltas e reviravoltas, e se calhar uma intervenção do destino. Quando eu era criança e quando estava a crescer, a Volvo sempre foi popular, no Reino Unido, e sempre teve uma imagem de autenticidade em torno da segurança, da sustentabilidade; era um produto para a família e para um certo estilo de vida. Isso ficou comigo. Portanto, eu conhecia a empresa de fora. A minha carreira sempre se desenvolveu à volta da tecnologia, eletrónica de consumo, em empresas como Flextronics, Blackberry, Dyson. E houve uma altura em que a administração e o Hakan Samuelsson, que tinha sido o CEO da Volvo durante cerca de dez anos e estava a deixar a empresa – ele fez um trabalho muito bom ao posicionar a empresa para o futuro –, pensaram que seria preciso alguém da indústria tecnológica, em vez de uma pessoa com um percurso no setor automóvel. Acho que esta foi uma escolha bastante corajosa, porque a via mais fácil era escolher alguém do ramo automóvel, ninguém questionaria essa opção. Porém, o setor está a mudar rapidamente, e acho que eles perceberam – e isso não era assim tão óbvio – que o desafio não está só na eletrificação. Se fosse uma questão de mudar de um motor de combustão para baterias, toda a transição estaria já terminada. Há duas grandes partes desta transição na indústria automóvel. Uma é a tecnologia; a outra é do lado comercial. A tecnologia é um tema muito mais profundo do que a eletrificação. Passa pelo core computing, pelo silício que está na origem do core computing, e pelo software, claro, que fica em cima dessa estrutura. Mas o elemento provavelmente mais importante é a conectividade e os dados. E quando trazemos estas coisas todas para cima da mesa, isso leva-nos mais para o mundo da tecnologia, para setores em que essa tecnologia está a ser utilizada há muito tempo e que tem de ser cada vez mais adotada na indústria automóvel. Simultaneamente, há este grande movimento em direção à sustentabilidade, o que se liga à forma como se desenha um carro, os materiais que se usam, as escolhas – de design e outras – que se fazem, tudo isso tem de estar ligado à sustentabilidade. Este é o lado da tecnologia.