O Banco Central Europeu agravou esta quinta-feira os juros de referência em mais 0,25 pontos percentuais, a décima subida consecutiva. A taxa de juro das operações principais de refinanciamento – o preço a que a autoridade monetária empresta dinheiro aos bancos da Zona Euro – subiu para 4,5%, o valor mais alto desde o início dos anos 2000. Já a taxa de depósito ficou agora em 4%, um novo máximo da era do euro.
Os economistas estavam na dúvida se, face aos recentes sinais de fraqueza da economia da Zona Euro, a autoridade monetária iria avançar com novo incremento. Mas, apesar de terem existido membros do banco central que preferiam fazer uma pausa, uma “sólida maioria”, segundo Christine Lagarde, apoiou a decisão. Agora, a grande questão é se após este novo agravamento já se chegou ao fim do ciclo mais violento de subida dos juros da Zona Euro.
A resposta dada pela presidente do BCE foi uma espécie de “nim”. Na conferência de imprensa para explicar a decisões de política monetária, Lagarde não foi taxativa e não se quis comprometer. Por um lado, realçou que “com base na sua atual avaliação, o Conselho do BCE considera que as taxas de juro diretoras atingiram os níveis que – se forem mantidos durante um período suficientemente longo – darão um contributo substancial para o retorno atempado da inflação ao objetivo”. Esta mensagem é um sinal de que os responsáveis de política monetária acreditam que, face à informação disponível, o valor atual das taxas de juro será suficiente para fazer baixar a inflação para perto da meta de 2%.
No entanto, Lagarde sublinhou também a parte do comunicado do Conselho de Governadores a indicar que o BCE “continuará a seguir uma abordagem dependente dos dados na determinação do nível e da duração adequados da restritividade”. Assim, conclui a líder da autoridade monetária, “não podemos dizer ainda que estamos no pico”.
As palavras de Lagarde dão a entender que se a inflação e outros dados económicos darem sinais de estar em linha com o atualmente previsto, o ciclo de aumento dos juros pode ter chegado ao fim. Porém, se a evolução dos preços continuar a ficar acima do pretendido, não fica descartado novo agravamento dos juros.
A decisão desta quinta-feira foi tomada já com base nas novas projeções dos especialistas do BCE, que apontam para “uma inflação média de 5,6% em 2023, 3,2% em 2024 e 2,1% em 2025, o que representa uma revisão em alta para 2023 e 2024 e uma revisão em baixa relativamente a 2025”. Já as expectativas para o crescimento da economia foram cortadas. “Perante o crescente impacto na procura interna desta maior restritividade e o enfraquecimento do enquadramento do comércio internacional, os especialistas do BCE reduziram significativamente as suas projeções para o crescimento económico. Esperam agora que a economia observe uma expansão de 0,7% em 2023, 1,0% em 2024 e 1,5% em 2025”, refere o comunicado da instituição.
Desde o início do ciclo da subida de juros, em julho do ano passado, o BCE já agravou as taxas de referência em 4,5 pontos percentuais, a sequência mais rápida de aumentos do custo do dinheiro desde o início da Zona Euro. Essa política agressiva para conter a inflação tem levado a uma quebra da procura por crédito e a um encarecimento das prestações pagas por quem contratou empréstimos a taxa variável. Os impactos desta política já resultaram numa revisão em baixa das projeções para o crescimento, mas há cada vez mais economistas a alertar que a Zona Euro pode estar a dirigir-se para uma recessão, principalmente após os fracos indicadores de confiança das empresas e dos consumidores divulgados durante o verão.
Assim, os economistas da consultora Capital Economics, por exemplo, consideram que o cenário mais provável é de que o BCE mantenha as taxas nos níveis atuais durante algum tempo: “Dada a nossa perspetiva de que a inflação subjacente apenas irá aliviar gradualmente mesmo com a Zona Euro a encaminhar-se para uma recessão, pensamos que os responsáveis de política monetária irão deixar as taxas nestes níveis recorde até setembro do próximo ano”.