Em duas décadas, Coimbra perdeu cerca de 5% da população, quebra que foi ainda maior nos habitantes em idade ativa. Este fator levanta algumas preocupações sobre o dinamismo da cidade e região nos últimos anos e indicam que há “muito trabalho a fazer” para fazer com que se estanque esse problema. O diagnóstico foi feito pelo bastonário da Ordem dos Economistas, Rui Leão Martinho, no Fórum Global PME, uma iniciativa da Ageas Seguros e Ordem dos Economistas, de que a EXAME é parceira.
“A cidade durante longos anos foi esquecida e não foi vendida como deve ser”, afirmou o economista. No entanto, apesar de ter perdido terreno para outras cidades como Braga ou Aveiro, por exemplo, Rui Leão Martinho acredita que “há condições para haver desenvolvimento” e recuperarem-se lugares no ranking das cidades portuguesas. Considera que a região pode ser bastante atrativa e inclusiva para os mais jovens e que teria a ganhar em tornar-se numa smart city para atrair população e empresas.
Do lado do tecido empresarial, apesar de alguns bons exemplos que existem em Coimbra, os números também mostram que há trabalho a fazer. Rui Leão Martinho sublinhou que o concelho está apenas no lugar 67 no número de empresas não financeiras por cada 100 habitantes e que também ficou para trás em termos de exportações.
Paulo Júlio, CEO da Frijobel, avança uma possível explicação para essa aparente relação complicada entre Coimbra e as empresas. “Na minha opinião em Coimbra valoriza-se menos o empresário. Em Aveiro e Leiria dá-se muito mais importância”, observou o gestor, que foi presidente da Câmara de Penela. Paulo Júlio considera que “há uma desigualdade no tratamento por parte do poder local na forma como encara as empresas”. E atribui isso a “algum cinzentismo que existe na cidade que está ainda agarrado ao século passado e que caracterizava esta cidade de doutores”.
Apesar de os números evidenciarem alguns problemas na ligação de Coimbra com o tecido empresarial, há bons exemplos. A começar pelo ecossistema de start-ups apoiado pelo Instituto Pedro Nunes. Aliás, o mais recente unicórnio português, a Feedzai, foi nascido e criado na cidade. Jorge Pimenta, diretor de inovação no Instituto Pedro Nunes, referiu que o trabalho de ligar universidade e empresas está a ser feito, apesar de poder parecer pouco visível. “Há muito que tem sido feito na ligação entre o conhecimento produzido do ponto de vista académico e a sua aplicação prática”, garantiu, destacando os setores da engenharia e da medicina.
Paulo Barradas, CEO da Bluepharma, também defendeu que é possível criar empresas em Coimbra com base no conhecimento, dando o exemplo da sua própria empresa que está no topo dos rankings de inovação e desenvolvimento. “É possível fazer coisas bem feitas em Coimbra e em Portugal”, garantiu. E em relação à cidade, acredita que “tem uma oportunidade fantástica de desenvolvimento, precisa apenas de atrair mais pessoas e reter as que tem”. O gestor acredita que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) poderá ser uma arma importante para se atingir esse objetivo. “Pode ser estruturante para Coimbra”, diz, sublinhando que prevê uma maior cooperação entre PME e universidades e isso poderá ter um arrastamento positivo para o resto da economia. Já José Gomes, Chief Operations Officer do Grupo Ageas Portugal, considera que este “novo ciclo de investimento, abre oportunidades e desafios às empresa para fortalecer o posicionamento e a forma como abordam os mercados”.
Em síntese, observou Gustavo Barreto, Chief Commercial Officer do Grupo Ageas Portugal, Coimbra tem um “desafio da integração das empresas com a universidade”. Mas tem também “uma nota de esperança” porque há muitos projetos.
O desafio da mão-de-obra
Um dos temas que tem sido recorrente nas edições anteriores do Fórum Global PME é o da falta de mão-de-obra. Em Coimbra o problema também existe. “Há um problema nacional que tem a ver com a falta de mão de obra especializada, eletricistas, mecânicos, pedreiros”, referiu Paulo Júlio. O CEO da Frijobel critica o que diz ser uma desvalorização do ensino empresarial.
Na Bluepharma, para já, a escassez de mão-de-obra ainda não se sentiu de forma acentuada. No entanto, Paulo Barradas teme que o problema se agudize no futuro. Se atualmente se enfrenta a concorrência de empresas em cidades como Londres e Berlim para atrair mão-de-obra qualificada, no futuro o teletrabalho pode trazer mais competição. “Podem ficar em Coimbra mas a trabalhar para outras empresas”. Isso é uma oportunidade para o interior, acredita. Mas também um desafio para a sua empresa que tem uma forte componente de formação que poderá ser depois aproveitada por outros concorrentes.
Paulo Calado, diretor de gestão de parceiros da Microsoft Portugal, notou que a pandemia veio acelerar a qualidade das infraestruturas tecnológicas no País. E considera que isso é também uma oportunidade para Coimbra que diz ser “uma cidade vibrante em termos tecnológicos”.