Os efeitos da pandemia do novo coronavírus estão a levar à redução significativa de utentes atendidos nos hospitais privados, seja porque há menos pessoas a recorrer a estes estabelecimentos numa altura em que vigora o confinamento, seja pelo adiamento de consultas e cirurgias não urgentes que permitirá libertar capacidade para apoiar o setor público no combate à doença.
O impacto foi, segundo a associação do setor, “rápido e enorme” e levou a uma redução da atividade dos hospitais privados de mais de 50% nas últimas semanas. Com o adiamento de consultas agendadas e operações, conforme recomendação da Direção Geral de Saúde, estes estabelecimentos preparam-se também para responder, através de libertação de camas e condições técnicas e humanas, às necessidades acrescidas para lidar com esta crise.
“No atual momento a prioridade absoluta é o combate à COVID-19 e tudo faremos para que, quer na aplicação direta dos nossos recursos clínicos ao tratamento de doentes da COVID-19, quer na disponibilidade para reforçar a complementaridade com o SNS, e assim aliviar hospitais públicos da carga acrescida, possamos ultrapassar a crise em conjunto,” afirma Oscar Gaspar, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP), em respostas por escrito a questões da EXAME.
O responsável realça ainda a intenção do Governo em acelerar os pagamentos a fornecedores, transmitida recentemente no âmbito do plano de combate ao novo coronavírus. Os hospitais privados têm a receber, pelas contas da associação, cerca de €150 milhões de euros, entre ADSE, ação social das Forças Armadas e SIGIC (Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia, que gere a redução das listas de espera nas cirurgias). “É vital para a tesouraria das empresas, muito afetadas pela redução da atividade, que o Governo cumpra esta intenção e proceda aos pagamentos em atraso,” sublinha.
Oscar Gaspar defende ainda que, no futuro, seja dada prioridade ao investimento na saúde, um setor que, diz, “tem um enorme potencial de alavancagem da atividade económica”. Universidades, centros de investigação e empresas deverão assim, argumenta, investir em generalizar o Registo de Saúde Eletrónico, operacionalizar e atualizar registos nacionais (oncológico, doenças respiratórias ou diabetes, exemplifica), além de um plano integrado para as doenças crónicas dirigido especificamente à diabetes e hipertensão.