O BCE foi buscar a artilharia pesada para ajudar a conter o contágio da Covid-19 à economia da Zona Euro. O banco central anunciou de surpresa, no final desta quarta-feira, um novo programa de compras de ativos no valor de 750 mil milhões de euros (um valor 3,5 vezes superior ao PIB de Portugal) e que vai durar até, pelo menos, final de 2020.
Além de adquirir dívida pública e obrigações de empresas, o BCE vai também comprar papel comercial, dívida de curto prazo que ajuda à liquidez de curto prazo do setor empresarial. E o banco central continuará a comprar obrigações hipotecárias emitidas pelos bancos e dívida titularizada. Este novo programa chega cerca de uma semana depois de o BCE ter anunciado as primeiras medidas para mitigar os efeitos do novo coronavírus na economia, que incluía um reforço do programa de compras que já existia e empréstimos baratos e ilimitados para a banca.
No entanto, os investidores e economistas reagiram mal às medidas anunciadas na passada quinta-feira e deram sinais de nervosismo após o discurso de Christine Lagarde. A presidente do BCE tinha dito que o banco central não tinha como missão impedir uma subida dos spreads (prémios de risco) da dívida dos países da Zona Euro. Essa declaração não foi bem recebida em Itália e motivou críticas de que as instituições financeiras não estavam a fazer o suficiente para apoiar o país que passa por uma situação delicada. A presidente do BCE teve mesmo de esclarecer posteriormente a afirmação, dizendo que o banco central iria fazer tudo para evitar uma fragmentação da Zona Euro.
Nos mercados de dívida, a taxa exigida pelos investidores para comprarem dívida italiana a dez anos subiu de 0,9% para 2,4% em menos de um mês devido à pressão colocada nas contas públicas pelos danos económicos da Covid-19 e à necessidade de Itália se endividar para poder dar resposta a esta crise de saúde pública. Os juros espanhóis, e também os portugueses, seguiam uma tendência de alta nos últimos dias. Com este programa, chamado Pandemic Emergency Purchase Programme, o banco central fica com ferramentas para poder comprar dívida de países e empresas em maiores dificuldades por causa da pandemia.
Tudo o que for necessário
Para já, este programa vai durar até final de 2020. Mas tanto o prazo como o valor das compras pode ser revisto, indicou o BCE no comunicado sobre estas medidas. “O Conselho de Governadores fará tudo o que for necessário dentro do seu mandato e está totalmente preparado para aumentar a dimensão dos programas de compra de ativos e de ajustar a sua composição, até ao valor que for necessário e durante o tempo que for preciso. Irá explorar todas as opções e todas as contingências para apoiar a economia neste choque”.
O BCE não irá tolerar quaisquer riscos à transmissão correta da sua política monetária em todas as jurisdições da Zona EUro
BCE
As compras do BCE têm limites. O banco central não pode comprar mais de 33% da dívida de um país (no passado isso fez, por exemplo, com que as compras de dívida portuguesa ficassem abaixo da meta). Para já, a instituição não alterou essas regras, mas admite revê-las se isso se revelar necessário. E o BCE deixa claro, na última frase do comunicado, que “não irá tolerar quaisquer riscos à transmissão da sua política monetária em todas as jurisdições da Zona Euro”. Isto é, garante que vai impedir um cenário semelhante ao que aconteceu durante a crise de dívida soberana, em que na mesma altura havia países com taxas de juro em mínimos históricos enquanto outros tinham taxas tão altas que deixaram de ter acesso aos mercados de financiamento.