A estratégia multinacional encabeçada por Portugal e pelos Países Baixos para a produção de hidrogénio verde em Sines e exportação para o Norte da Europa já tem nome: Green Flamingo, ou Flamingo Verde na tradução para português. E propõe-se gerar mais de 5.000 empregos, com o projeto a ser avaliado em €3.500 milhões em termos de investimento.
O objetivo consta da apresentação feita em Bruxelas na passada quarta-feira, 15 de janeiro, e tornada pública nas últimas horas no site reservado à iniciativa Projetos Importantes de Interesse Europeu Comum (IPCEI na sigla em inglês). Este mecanismo comunitário permitirá aceder a financiamento europeu em condições mais favoráveis para o desenvolvimento de investimentos estruturantes, entre os quais no hidrogénio verde.
A iniciativa apresentada, que vai envolver além de Portugal e dos Países Baixos, também a Alemanha e a Dinamarca, estima um investimento superior a €3.500 milhões no desenvolvimento, na zona do Porto de Sines, de “um hub de exportação de hidrogénio verde, ligado por via marítima ao porto de Roterdão, a porta para o megacluster químico da Europa.”
Segundo a apresentação consultada pela EXAME, o consórcio envolverá 15 empresas, sendo já conhecidos os nomes de oito delas. Além do Resilient Group – liderado por Marc Rechter e que está a coordenar a estratégia – somam-se as holandesas Vopak (especialista em armazenamento de combustíveis, que investiu recentemente numa empresa de tecnologias para a logística de hidrogénio) e Anthony Veder (especialista no transporte de gás por via marítima).
A empresa espanhola H2B2 de tecnologias de eletrólise (que permitem obter o hidrogénio através de eletricidade) e a dinamarquesa Vestas (produtora de turbinas eólicas) estão também na iniciativa, a par das portuguesas EDP e Galp, que já tinham vindo a sinalizar uma aproximação ao processo. O banco ABN AMRO, dos Países Baixos, também integra o agrupamento.
A estratégia de hidrogénio verde para Sines foi revelada em novembro passado pelo secretário de Estado Adjunto e da Energia, João Galamba. E a apresentação da passada quarta-feira traz novos pormenores: a central combinará tecnologias solar e eólica para alimentar um eletrolisador de 5GW. E prevê a produção de 465 mil toneladas de hidrogénio por ano, permitindo evitar emissões de 18,6 MT de CO2 por ano. Pressupõe ainda a criação de uma rede de distribuição de hidrogénio.
O cronograma da apresentação feita em Bruxelas aponta para a apresentação de uma candidatura da estratégia a IPCEI até 30 de abril deste ano, esperando-se que os resultados sejam conhecidos em novembro. O início da construção do projeto em Sines está previsto para junho de 2021. Até ao momento são conhecidos dez projetos no âmbito da iniciativa IPCEI.
João Galamba disse esta semana à EXAME que o Governo quer aprovar até ao final de março o Roteiro Nacional para o Hidrogénio, o documento que guiará a atividade de produção, distribuição e consumo de hidrogénio no País até 2050 e que pretende contribuir para a estratégia de descarbonização.
Em paralelo, o Governo iniciou também o trabalho de alterações legislativas necessárias ao desenvolvimento do setor, nomeadamente ao nível da certificação e garantia de origem dos gases renováveis (além do hidrogénio, também o biometano) e da sua incorporação no gás natural. As mudanças na legislação, que o governante considera que robustecem a estratégia de descarbonização do País e poderão até acelerar o cumprimento das metas entre 2030 e 2050, estarão aprovadas até ao final do primeiro semestre.