Enquanto a atividade da Farfetch vai dando sinais mais positivos, continua em curso o processo judicial colocado por vários investidores norte-americanos que se consideram lesados na venda dos títulos da empresa aquando da entrada em bolsa.
De acordo com documentos do tribunal do Southern District de Nova Iorque, consultados pela EXAME, a juíza encarregue do caso, Alison J. Nathan, já fixou uma data para receber todas as partes. Será a 24 de Fevereiro que decorrerá, em Nova Iorque, a conferência pré-julgamento, fundamental para se perceber os passos seguintes.
Nesse encontro, com todas as partes envolvidas, será prestada informação perante a juíza, ainda sem produção de prova, mas de forma a que seja claro quais os crimes imputados, que elementos de prova serão submetidos (ainda sem os analisar a fundo), e a posição dos visados, como a Farfetch, José Neves, a restante administração da empresa e os assessores financeiros na Oferta Pública Inicial.
É até possível – e é frequente acontecer – que possa haver um acordo entre as partes. Se tal acontecer, e caso a juíza o aceite, não chega a haver julgamento. É, aliás, possível que haja um acordo antes da audição de Janeiro, acordo esse que terá de ser transmitido ao tribunal.
As queixas, colocadas por várias sociedades de advogados norte-americanas em nome de investidores, têm como principais argumentos a informação prestada pela administração da Farfetch, nomeadamente que esta terá omitido: “Que a empresa se recusaria a baixar preços para acompanhar o resto do mercado; que esta estratégia de preços subótima deixaria a plataforma da empresa altamente suscetível a uma estratégia de baixa de preços dos concorrentes, apesar daquilo que os arguidos publicitaram como uma plataforma superior”; e que “como resultado, as perspetivas passadas e futuras de taxas de crescimento eram notoriamente insustentáveis.” “Assim, as afirmações dos arguidos sobre a estratégia de negócio da empresa e as suas perspetivas de crescimento não possuíam, durante o tempo relevante, uma base razoável”, conclui uma das primeiras queixas, neste caso da fundo de reforma dos polícias de Coral Springs, que investiu na Farfetch.
Outras acrescentam um argumento diferente, com base na anunciada compra da New Guards Group por 675 milhões de dólares, depois de a Farfetch já ter adquirido a Stadium Goods e a Toplife, no último ano. Na queixa apresentada pelo investidor Jeff Omdahl, argumenta-se que a Farfetch omitiu que “iria procurar agressivamente fazer aquisições para se manter rentável”
Resultados bem recebidos
Na vertente operacional, a Farfetch recebeu boas notícias, com os resultados trimestrais a agradarem a investidores e analistas. No terceiro trimestre, as receitas subiram 90% em termos homólogos, para 255,5 milhões de dólares, enquanto o prejuízo se alargou de 77,2 para 85,5 milhões de dólares. Os resultados ajustados por acção ficaram nos 18 cêntimos por acção, negativos, o que compara com uma estimativa média dos analistas de 37 cêntimos.
A estratégia da Farfetch até aqui tem sido centrada sobretudo na conquista de quota de mercado nas vendas de luxo online, inclusivamente através de aquisições, sendo a rentabilidade o próximo objetivo. “Tivemos um terceiro trimestre fantástico, batendo todas as nossas expetativas, e continuando a capturar quota de mercado a um ritmo rápido”, afirmou José Neves na apresentação.
Em reação aos resultados, as acções da Farfetch – muito penalizadas este ano – responderam de imediato em alta. Na sessão de sexta-feira, a primeira após a divulgação dos números, chegaram a valorizar perto de 30%.