Na primavera do ano passado, Bruxelas esperava que a população portuguesa empregada aumentasse 1,4% em 2017 e 0,9% em 2018. As previsões viriam a mostrar-se claramente conservadoras. As projeções seguintes, publicadas no outono do mesmo ano, já apontavam para uma variação muito superior em 2017 (2,9%), embora ainda fossem cautelosas em relação a 2018 (1,2%). Hoje, nas mais recentes estimativas comunitárias, os dois valores voltam a ser revistos em alta, para 3,3% e 2,1%, respetivamente.
Para perceber a dimensão da diferença, talvez seja útil deixarmos de falar em percentagens. As previsões iniciais da Comissão assumiam que em 2018 haveria mais 108 mil pessoas empregadas do que dois anos antes. Hoje, as novas estimativas refletem um crescimento 256 mil nesse espaço de dois anos.
Claro que estas revisões espelham uma economia que também se está a revelar mais dinâmica do que as instituições internacionais – e o próprio Governo – esperavam. Há um ano, a Comissão esperava que a economia portuguesa crescesse 1,7% em 2017 e 1,6% em 2018. Atualmente, está bastante mais optimista: o ano passado fechou com um crescimento de 2,7% e para este ano são esperados 2,3%.
No documento publicado hoje, Bruxelas nota que a percentagem de portugueses empregados se está a aproximar do máximo histórico de 62,7% atingido em 2001 (hoje está acima de 61%).
Mais emprego, mas com salários baixos
A economia portuguesa está, em parte, a ser puxada por uma atividade mais forte por toda a Zona Euro. Mas o mercado de trabalho português revela um comportamento especialmente positivo. Entre 2016 e 2018, só quatro países da União Europeia viram o emprego aumentar mais do que Portugal: Luxemburgo, Eslovénia, Chipre e Malta.
As melhorias também se observam na taxa de desemprego que só no último ano recuou de 9,7% para 7,4%, o valor mais baixo em 14 anos. “Depois de uma melhoria significativa em 2017, os indicadores de mercado de trabalho devem manter o ímpeto positivo, embora a um ritmo mais lento. O desemprego deve cair de 9% em 2017 para 7,7% em 2018 e 6,8% em 2019, com crescimento do emprego e taxas de atividade mais elevadas”, escreve a Comissão Europeia. “O desemprego já está abaixo do nível em que se encontrava antes da crise financeira de 2008, mas ainda está acima do mínimo histórico de 5,1%, atingido em 2000.”
No entanto, os técnicos comunitários avisam que, embora se espere um crescimento dos salários, ele deverá ser atenuado pela “forte criação de emprego” em setores de mão-de-obra mais barata. Bruxelas não diz que áreas são essas, mas estará a referir-se ao turismo, um dos setores mais dinâmicos da economia portuguesa, com salários baixos em comparação com outras atividades.