Na última convenção anual da Alibaba, a plateia foi surpreendida com a aparição em palco de uma figura frágil e misteriosa, montada numa potente mota. Sem tirar a máscara, saiu do veículo e disparou de imediato numa muito desajeitada dança ao som de Michael Jackson. No final, tirou a máscara. Era o próprio Jack Ma. Disponível no Youtube, o vídeo que já foi visto várias milhões de vezes termina com Ma montando novamente na mota, entrando para uma caixa e desaparecendo, ao velho estilo do mágico David Copperfield. Mais do que um ato de exibicionismo, Ma estava a divertir-se e a entreter os seus funcionários e alguns dos seus maiores clientes. Um bizarro mas enternecedor momento de consagração do homem mais rico da China e um dos mais abastados do mundo. Um homem cujo track-record de rejeições levaria o mais resistente a desistir.
Ma conta sempre a história da sua consecutiva rejeição. Tentou ser polícia, mas dos cinco concorrentes, ele foi o único que não ficou. Depois, quando o Kentucky Fried Chicken entrou na China, foi o único entre 24 candidatos a não ser aceite. Mais tarde, pretendeu matricular-se em Harvard: foi rejeitado por dez vezes.
A ascensão mundial de Jack Ma é indissociável da China e do momento na história que o país atravessa, para o bem e para o mal. Para o bem, pela pujança económica chinesa. Para o mal, porque a China não estava desenhada para criar um magnata do comércio.
Em criança, pedalava diariamente 70 quilómetros até ao Hotel Hangzhou e era guia turístico para estrangeiros. Não cobrava nada. A sua recompensa era o contacto com culturas diferentes, e praticar o seu inglês, uma vantagem cultural significativa face à esmagadora maioria da população. Essa perseverança, bem como o conceito de “trabalhar sem trabalhar” são importantes no percurso do seu negócio.
Continuou a estudar, inglês e gestão, mas manteve contactos desses tempos de guia turístico. Correspondia-se com alguns desses turistas, e foi um deles que lhe deu a alcunha de Jack, por considerar difícil de pronunciar o seu verdadeiro nome, Ma Yun.
Em 1995, visita os EUA, e é esse o seu primeiro contacto com a internet, cujo potencial entendeu de imediato. Pesquisou a palavra “cerveja” e maravilhou-se com toda a informação que encontrou. Mas o que lhe chamou a atenção foi o que não encontrou: informação sobre cerveja na China. Seria o seu rumo, ser um pioneiro da rede no seu país.
De imediato, com a mulher, lançou a sua primeira empresa, destinada a criar páginas de internet para empresas chinesas. Depois, de 98 a 99, trabalhou na área para uma empresa estatal de tecnologias de informação, da qual se despediu para criar um projeto ambicioso: o Alibaba, um portal que permitisse às empresas chinesas fazerem negócios com congéneres e compradores de todo o mundo. Juntou 18 amigos no seu apartamento e explicou-lhes a ideia. A sua paixão permitiu reunir o dinheiro inicial, e o resto é história.
Enquanto os competidores norte-americanos lutavam para singrar no apetitoso mercado chinês, o grupo Alibaba crescia, em número de serviços, clientes e faturação, e atraía o capital de investidores estrangeiros. Em 2004, foi a vez de entrar em bolsa. Já com muito nome e músculo, o grupo levantou 25 mil milhões de dólares na bolsa de Nova Iorque.
Ma reconhece que não percebe muito de informática. Nunca escreveu uma linha de código na vida e teve o seu primeiro computador aos 33 anos. Em vez disso, é um vendedor nato, um entusiasta, um otimista e um resistente. Rodeia-se de pessoas que, reconhece, lhe são tecnicamente muito superiores. E, apesar de fazer muito, muito dinheiro, diz que isso é uma consequência, não um objetivo.
Foi uma das primeiras figuras chinesas a encontrar-se com o presidente Donald Trump e, mesmo perante a sombra de uma guerra comercial entre os países, saiu da Casa Branca sorridente e otimista. É outro dos seus traços distintivos: não há inimigos, há rivais e exemplos de inspiração, e cada obstáculo é um apelo à negociação e à imaginação.
O homem que é mestre em tai chi e cujo filme preferido é Forrest Gump, com quem se identifica, já pensa na reforma: “Hei de morrer numa praia, não no meu gabinete.” O grupo está pronto para seguir sem ele, acredita.
Os 8 mandamentos
1 – Aceitar a rejeição. Ma sofreu dezenas de rejeições na procura de um emprego. “Falhar não é ser rejeitado, falhar é desistir”, afirma
2 – Investimento no produto.Há momentos em que é preciso gastar em marketing, mas, quando a empresa já é conhecida, os recursos devem ser investidos na melhoria contínua do produto
3 – Cliente é o número 1. O cliente primeiro, depois o funcionário, só depois o acionista. Sem cliente não há negócio, sem funcionários motivados não há qualidade de serviço nem inovação
4 – Adorar o produto. É preciso ter paixão pelo que se faz, pelo produto que se vende, porque só assim esse sentimento chega ao cliente
5 – O nome é importante. Ma gostava do nome Alibaba, mas ficou convencido quando perguntou a uma empregada de mesa em São Francisco se ela sabia o que era. Esta respondeu “abre-te Sésamo”, e nessa altura o empresário soube que tinha um bom nome para a sua empresa
6 – Escolher os melhores. “Se não contratas pessoas tecnicamente melhores do que tu, estás a contratar as pessoas erradas”, diz
7 – Rivalidade é saudável. Os concorrentes não são inimigos, mas uma inspiração para aprender a fazer melhor e a fazer outras coisas
8 – A cultura está acima do líder. Ma já pensa na reforma, mas acredita que os fortes valores de foco na experiência do cliente farão a empresa continuar forte