Tudo começou com duas máquinas de fazer botões e uma cave na casa de família, em Gândara, Vila Nova de Famalicão. Carlos Rego, minhoto de 20 anos, que já trabalhava há oito anos numa fábrica e sabia o que eram as resinas de poliéster, decidiu fazer uso do conhecimento em proveito próprio e lançar o seu negócio em 1966. Afinal, a matéria-prima era a preferida dos americanos no fabrico de botões, e por isso o empreendedor sabia que tinha mercado além-fronteiras para crescer. O Exército dos Estados Unidos, por exemplo, continua a ser a um dos principais clientes da Louropel. O russo também. Mas há também as marcas de luxo que se renderam aos botões portugueses, como a Giorgio Armani, Valentino, Hugo Boss, Massimo Dutti, Ralph Lauren e Lacoste.
A flexibilidade da empresa, que fabrica botões segundo as especificidades de cada cliente, é um dos trunfos do sucesso: a Louropel é a maior fabricante de botões do mundo e produz, em média, 10 milhões por dia nas três fábricas de Louro. A companhia, que se escusou a prestar declarações à EXAME, confirma a sua posição na liderança mundial, mas não revela o volume de negócios em 2016. Os últimos dados publicados dizem respeito a 2013, ano em que contava com 240 trabalhadores, em que as receitas atingiram 12,5 milhões de euros e os lucros se ficaram pelos 376 mil euros (apesar da omissão, a empresa obteve financiamento do programa Compete 2020 de 1,5 milhões de euros em 2016 e foi considerada PME Líder pelo IAPMEI no início deste ano).
Numa entrevista de 2013, Avelino Rego, segunda geração à frente da companhia (o fundador faleceu em 2010), explicava que “os botões das fardas do Exército americano são feitos à base de melanina e ureia. É que, como eles combatem em zonas de temperaturas extremas, um botão destes na boca dá uma grande sensação de frescura”. A inovação é, pois, o outro trunfo da Louropel, que há muito deixou de se confinar ao poliéster: metal, madeira ou borracha também fazem parte do portefólio da empresa, que se destaca sobretudo pelos botões ecológicos biodegradáveis, produzidos com papel reciclado, farinha de sêmola, serradura de madeira, algodão, cortiça, corozo (fruto ácido importado da Colômbia) ou corno (que chega da Argentina). A última novidade lançada no mercado são os botões ecológicos fabricados a partir de café: às borras adiciona-se resina reciclada de poliéster polimerizado, cuja patente mundial pertence à Louropel. A empresa exporta para 40 países, com destaque para a Europa e Estados Unidos.
Este artigo é parte integrante da Exame de Junho de 2017