A Fosun é, destacadamente, o rosto do investimento privado chinês em Portugal, os grandes compradores e a surpresa da onda de vendas que atingiu o país nos anos da troika. As grandes empresas chinesas estavam a internacionalizar-se no início da década e havia boas oportunidades de negócio, e o país estava vendedor de empresas líderes a preços atrativos. A Fosun aproveitou o momento e avançou em força.
Comprou a maior seguradora portuguesa, a Fidelidade, e uma das empresas mais conhecidas na prestação de serviços de saúde, a Espírito Santo Saúde, hoje Luz Saúde. Tornou-se acionista maioritário do maior banco privado português, o BCP, e passou a controlar mais de 5% da rede elétrica nacional, a REN. Tem sido uma das grandes compradoras de imobiliário em Lisboa: adquiriu o emblemático edifício da Rádio Renascença, no Chiado. E Guo Guangchang, líder do grupo, avisou recentemente, numa entrevista ao Expresso, que não irá parar por aqui.
Turismo, lazer e o sector farmacêutico estão no topo das prioridades de investimento, confessou Guo Guangchang, o 22.º homem mais rico da China. Os negócios de futebol também estão no radar. Aliás, é um desporto que tem atraído muito investimento e atenção da China nos últimos anos. Há oportunidades em Portugal, nomeadamente no turismo, e a Fosun está atenta. Vários empresários ter-lhe-ão ido bater à porta com propostas. Desde 2011 que os investidores chineses, os novos donos do dinheiro, têm sido procurados como parceiros ou potenciais compradores de tudo o que está à venda.
2,3 mil milhões de investimento
A Fosun já investiu em Portugal mais de 2,3 mil milhões de euros. Um valor que sobe para cerca de 2,8 mil milhões se tivermos em conta os quase 500 milhões que a Fidelidade, já depois de ter sido adquirida pelo grupo chinês, aplicou na compra da Luz Saúde. É também um montante muito próximo do que investiu a estatal chinesa China Three Gorges para se tornar a acionista de controlo da EDP (2,7 mil milhões). Quanto irá investir mais? Tudo depende das novas oportunidades. À beira de completar 50 anos, Guo não abre muito o jogo, mas sublinha que Portugal é um país estável, o que lhe agrada, e é um país que transmite confiança na economia. “No início do investimento estávamos cautelosos e preocupados, porque foi no período em que a economia portuguesa estava em baixo. Mas depois de conhecermos melhor Portugal, o povo e a economia, acho que estamos confiantes. E Portugal transmite-me estabilidade. A política é bem estável, mesmo depois da mudança de governo. O povo português também é muito simpático para os investidores e é trabalhador. Estou otimista com a economia portuguesa”, disse numa entrevista ao Expresso publicada a 11 de março. A satisfação com o investimento em Portugal é grande. Só está em negócios lucrativos. A Fidelidade e a Luz Saúde tiveram um resultado líquido de 229 milhões de euros em 2016. Destes, 211 milhões vieram da antiga seguradora do Estado, onde detém 85% do capital.
A estratégia para estas duas empresas passa por expandir e inovar o negócio em Portugal e no exterior. A criação de uma unidade de saúde em Angola, um projeto herdado do Grupo Espírito Santo, já teve ‘luz verde’ para avançar e deverá abrir em 2018, como refere o relatório e contas da Luz Saúde. Já para a Fidelidade a estratégia é, segundo o seu presidente, Jorge Magalhães Correia, “apostar forte na expansão em termos internacionais”. O desafio “é digitalizar a companhia, marcando o posicionamento líder da seguradora”. Sobre investimentos futuros concretos e passos dados nesse sentido pela Fidelidade e pela Luz Saúde, optaram por não responder às questões da EXAME. Já a casa mãe, a Fosun, disponibilizou alguma informação pedida.

Luís Barra
Internacionalizar a partir de Portugal
O processo de internacionalização da Fosun é para manter, e Portugal é olhado como a plataforma para investir em países de expressão portuguesa. Os investidores chineses já há algum tempo que não escondem que o interesse pelas empresas portuguesas está muito associado também ao facto de elas marcarem presença nos países da lusofonia. Angola e Moçambique são países onde a China tem um posicionamento relevante e o Brasil é um mercado apetecível. “Temos investimentos no Brasil, por exemplo a Rio Bravo, e estamos a ver muitos projetos lá. Esperamos que no futuro a Luz Saúde e a Fidelidade possam investir no Brasil”, menciona Guo. E acrescenta: “Estamos à procura de mais investimento em África. Somos o maior fornecedor de medicamentos para o tratamento da malária em África, e por isso temos já muitos negócios no sector farmacêutico”.
Portugal abre-lhe também as portas do mercado europeu em sectores em que as barreiras são difíceis de ultrapassar, como é o caso das áreas estratégicas da energia e o sector financeiro. Nessa matéria, a Fosun já tem trunfos para jogar. Detém 23,9% do BCP e 5,3% da REN. “Sim, é verdade que Portugal é um portal do nosso investimento na Europa. Mas é mais do que isso. É, ao mesmo tempo, o portal do nosso investimento para os países lusófonos. Na Europa não temos só investimentos em Portugal, também temos grandes investimentos em Frankfurt, na Alemanha, no Reino Unido e em França”, explica. A Fidelidade pode avançar para a Polónia e o BCP investir na China, admitiu. Como e quando, ainda não se sabe. Mas Guo sempre vai dizendo: “Temos toda a vontade de ajudar o desenvolvimento do BCP em Macau e na China continental.”
“Portugal é o melhor país da Europa para investir”, disse Guo Guangchang, em junho de 2015, numa visita de charme de jornalistas portugueses a Xangai. Nessa altura estava em cima da mesa a compra do Novo Banco, o que acabou por não acontecer. Para já não tem razão de queixa, tem comprado negócios lucrativos. O BCP, onde aplicou mais de 400 milhões de euros, é por agora o investimento mais difícil. O banco ainda não dá lucro, acaba de sair de um processo de reestruturação sofrido e ainda tem alguns créditos tóxicos para limpar. Mas através dele, a um preço impensável antes da crise, comprou uma relevante quota de mercado e colocou o pé na banca europeia.
A olhar para Portugal desde 2013
Lisboa entrou no mapa da Fosun no final de 2013, quando ela se interessou pela Fidelidade. Não havia capital português para investir, os bancos tinham fechado a torneira do crédito, o desemprego batia um recorde histórico de 17% e, no final desse ano, o país entrava em contagem decrescente para o fim do programa de resgate. Guo Guangchang estava atento a tudo o que estava à venda. Posicionou-se como comprador na onda de vendas que varreu Portugal nos últimos anos. Saiu-se bem. A Fosun foi, até ao verão de 2015, o grupo privado chinês que mais tinha investido no país: dois mil milhões de euros. Ainda não foi destronado, nem de perto nem de longe. Um investimento que poderia ter duplicado ou triplicado se tivesse saído vencedor na compra do Novo Banco e tivesse pago o preço que o Banco de Portugal queria cobrar. O impulso de compra era grande e na mira estavam ativos do antigo Grupo Espírito Santo, o que levou a que nos meios financeiros se começasse a dizer que a Fosun era o novo ‘dono disto tudo’. Não é, mas é um dos grupos que mais se destacou nos últimos anos e promete continuar a dar nas vistas.
Com o avanço sobre o BCP, já em 2016, percebe-se que o grupo não iria desistir da banca, apesar do recuo no Novo Banco. Mais, a parada tinha, inclusive, subido. E o preço a pagar seria mais baixo. Tornar-se o maior acionista do banco fundado por Jardim Gonçalves com uma participação de 23,9% iria custar-lhe poucas centenas de milhões, longe dos mais de dois mil milhões de euros que se admitia que o Banco de Portugal queria pelo Novo Banco. A Fosun já se tinha tornado uma estrela quando investiu no BCP, mas ascender a maior acionista do maior banco privado português, destronando a angolana Sonangol, dá-lhe outra visibilidade. Foi em 2014 que o conglomerado chinês, criado no início da década de 90 por quatro jovens universitários, concretizou o primeiro investimento em Portugal. Seguiu o trilho das gigantes estatais China Three Gorges (EDP) e State Grid (REN), que apostaram forte no sector elétrico português. Entrou com o pé direito: comprou a Fidelidade, a maior seguradora portuguesa. Ofereceu 1,1 mil milhões de euros por 80% do capital e venceu a corrida. Praticamente não teve concorrência. Poucos meses depois avançou para o negócio da saúde da família Espírito Santo, onde estava o mediático Hospital da Luz. O inesperado colapso do Grupo Espírito Santo assentava como uma luva na estratégia da empresa, muito empenhada em expandir a atividade nos negócios da saúde. A Espírito Santo Saúde era uma pérola. A Fidelidade arrebatou-a por 480 milhões de euros. Já acrescentou, entretanto, algumas clínicas ao portefólio da saúde. O grupo chinês investiu forte também no imobiliário em áreas emblemáticas de Lisboa, nomeadamente na Zona Ribeirinha, e fê-lo através da Fidelidade.
Em 2015 dá um novo salto em frente; desta vez o alvo é a energia. Compra 5,3% do capital da REN e torna-se um acionista de referência da rede de distribuição de energia. A esta decisão não terá sido alheio, certamente, o facto de a State Grid, a grande elétrica estatal chinesa, se ter tornado o acionista de controlo da REN, com 25% do capital. O investimento público e privado chinês andam de braço dado.
Guo não escolhe os investimentos ao acaso, quer empresas boas, com marcas fortes e capacidade de crescer. A Fidelidade era a líder de mercado, a Espírito Santo Saúde também.

Nunp Fox
Fidelidade ajuda
A Fidelidade foi um instrumento essencial na fase inicial de investimento da Fosun em Portugal. Foi com o dinheiro da ex-seguradora da Caixa Geral de Depósitos, cuja tesouraria era superior a três mil milhões de euros e o ativo sob gestão atingia 13 mil milhões de euros, que a Fosun comprou a Luz Saúde. A seguradora portuguesa investiu, pouco depois de ser adquirida, na Fosun Internacional quase o equivalente ao valor desembolsado pela sua compra: mil milhões de euros em obrigações.
A Fidelidade também foi usada para aquisições no exterior. A Fosun investiu, em setembro de 2014, cem milhões de dólares, financiados pela Fidelidade, no capital da Alibaba, a empresa de comércio eletrónico chinesa. O investimento surgiu quando esta se estreou na Bolsa de Nova Iorque. Foi também usada para aquisições no Japão e na Austrália, onde gastou 337 milhões de euros na compra de três edifícios. No final de julho de 2015, a Fosun anunciou a compra do Palazzo Broggi, em Milão, a antiga sede do banco italiano Unicrédito, e pagou uma fortuna por ele: o negócio fez movimentar 345 milhões de euros. E foi de novo a Fidelidade a chegar-se à frente. A fúria compradora foi contrabalançada com um aumento de capital na Fidelidade no montante de 500 milhões de euros, feito pela Fosun em 2015.

A Luz Saúde continua a crescer o seu negócio em Portugal e vai avançar com uma unidade em Luanda, a abrir em 2018
Ana Baião
O que é a Fosun?
Liderado por Guo Guangchang, o grupo foi ganhando espaço na República Popular da China. Primeiro investiu na área farmacêutica e na compra e venda de imóveis. Foi-se expandindo para diversas áreas, desde os seguros às telecomunicações. Poucos anos depois de ser criada, a Fosun foi-se construindo com base numa cascata de holdings, que foi crescendo à medida que o investimento expandia. Há uma holding de topo, a Fosun International Holding, controlada pelos quatro acionistas fundadores: Guo Guangchang (58%), Liang Xinjun (22%), Wang Qunbin (10%) e Fan Wei (10%). São eles que comandam o grupo, quatro homens na casa dos 50 anos, nascidos na época em que Mao Tsé-Tung dava início à Revolução Cultural e a China mergulhava num longo e duro período de fome. O Grupo Fosun tinha, em 2015, cerca de 100 mil empregados.
É a partir da casa mãe, a Fosun International Holding, que emanam mais 29 holdings, que, por sua vez, têm participações em cerca de 400 sociedades, umas detidas maioritariamente pelo grupo chinês, outras onde possui apenas posições minoritárias. Guo Guangchang detém em algumas uma posição de controlo. É um poderoso homem de negócios na China, o que não impediu que em dezembro de 2015 fosse detido na sequência de uma onda de prisões de empresários pouco claras que o regime de Xi Jinping fez naquela altura. Poucos dias depois foi libertado. Nunca se perceberam as razões da detenção.
A Fosun está agora na área financeira e não financeira, aposta forte no imobiliário e na gestão de ativos, prepara-se para fazer história nas áreas do turismo, espetáculo e moda e investe forte no sector da saúde. Os media e as telecomunicações também lhe são caros. Poucos sectores lhe escapam. E são as grandes marcas internacionais que estão na sua mira.

Depois da chega da troika a Portugal, os grupos chineses entraram em força nos sectores estratégicos. A EDP deu o exemplo
Luís Barra
Portugal atrai 13 mil milhões de euros
O investimento chinês em Portugal disparou a partir de 2011. Há capital chinês em empresas tão emblemáticas como a EDP ou a TAP. Mas também, e cada vez mais, em pequenos negócios menos visíveis – já não são só as lojas chinesas, que chegaram em força nos anos 90. Há um antes e um depois de 2011, pois até aí o investimento era praticamente irrisório. Em 2007, antes da crise, somava 2,1 milhões de euros. Desde que a China Three Gorges entrou na EDP, os investidores chineses já fizeram desaguar na economia portuguesa mais de 13 mil milhões de euros. Montante que inclui participações em empresas, compra de imobiliário e os chamados “vistos Gold” (programa de autorização de residência). Só o investimento direto e indireto na compra de empresas ascende a nove mil milhões de euros. Eis as operações mais relevantes: Em dezembro de 2011, a Three Gorges deu por 21,35% na EDP cerca de 2,7 mil milhões de euros. Comprou depois participações em parques eólicos e abriu linhas de financiamento à EDP, fazendo com que no total a incorporação de capital chinês ascendesse a 5,7 mil milhões de euros. Em maio de 2012, a State Grid pagou 387,15 milhões de euros por 25% da REN. Nestas duas empresas estratégicas, o montante investido ultrapassa seis mil milhões de euros. Dois anos depois, em maio de 2014, o Grupo Fosun começa a sua investida em Portugal, onde aplica até 2016 cerca de 2,3 mil milhões de euros. O antigo BES Investimento também foi comprado por um grupo chinês, a Haitong, que pagou 379 milhões de euros em dezembro de 2014. Outra grande investida foi a entrada da HNA no consórcio Gateway.

Foi a partir de 2010 que a internacionalização começou. Em 2014 intensificou-se. A entrada no Club Med e no Cirque du Solei deu-lhes visibilidade
GETTY IMAGES
Agigantar-se no exterior
O grupo nasceu em 1992, em Xangai. A ambição era grande. Em 2007 estreia-se na Bolsa de Hong Kong, a grande praça financeira asiática. Dezoito anos após a sua criação, a Fosun dá o pontapé de saída no processo de internacionalização.
Em 2010 avança para a compra de 7,1% do Club Med, o grande símbolo do turismo francês. Um ano depois compra o grupo grego Folli Follie, uma empresa de acessórios de moda de luxo, marca habitual nos aeroportos. Em 2013 e 2014 aposta nas companhias de seguros. É, aliás, neste momento que entra na Fidelidade. Portugal aparece na rota em 2014. Faz também uma investida no imobiliário – nomeadamente em Nova Iorque, onde se torna dona do famoso Chase Manhattan Plaza, o edifício construído por David Rockefeller e antes detido pela JP Morgan. Manhattan faz as delícias dos milionários chineses e há, por essa altura, vários a investir em força na mítica cidade que nunca dorme. O vinho e o turismo têm sido também apostas fortes do grupo controlado por Guo Guangchang. Em Espanha torna-se proprietária da prestigiada e centenária marca de vinhos e presuntos Osborne.
A internacionalização continua em ritmo acelerado. Em 2015, o grupo de Guo já tinha 12 operações no exterior e o plano era continuar a investir no estrangeiro. É nesse ano que compra 25% do Cirque du Soleil. Nesta altura já tinha visibilidade internacional. O grupo agiganta-se fora de portas. A internacionalização avança a todo o vapor: soma-se a compra de uma companhia de seguros israelita, a aquisição de um banco de investimento alemão, o H&A, e o BHF Kleinwort Benson, um dos mais antigos bancos da City.
A espetacular internacionalização da Fosun não se fez sem dor e a dívida tem sido considerada elevada por analistas financeiros. Dados da Fosun International relativos ao primeiro semestre de 2016 dão nota de que o total de ativos da Fosun ascendia a 59 mil milhões de euros, um crescimento de 7,4% em termos anuais. Nesse período, a empresa reconheceu receitas no valor de 4,3 mil milhões de euros, mais 9,3% do que em igual período de 2015. O lucro cresceu 21,4%, para 590 milhões de euros. “Houve novos progressos nas contas de ativos e passivos e otimizou-se ainda mais a estrutura da dívida”, lê-se no referido relatório. “A nossa dívida é apropriada, mas queremos e devemos baixar o seu nível e custo”, afirmou Guo Guangchang em entrevista ao Expresso. O rácio médio do custo da dívida emitida foi de 3,85%, abaixo dos 4,65% de rácio médio da dívida remunerada existente, diz o relatório. Em 2015, depois de ter adquirido a Fidelidade, a dívida situava-se em 14 mil milhões de euros. A Fosun é um conglomerado com cerca de 400 holdings e subholdings, detidas em cascata.
Com a crise da Bolsa de Xangai no verão de 2015, o investimento chinês arrefeceu e em 2016, com a limitação à saída de capitais, alguns grupos tiveram dificuldade em investir fora da China. Foi o caso do Minsheng Group, um dos interessados na compra do Novo Banco. Não parece ser o caso da Fosun. “Na realidade, o controlo não é para todos os capitais; as restrições são apenas para os capitais ilegais. O negócio da Fosun é internacional, por isso não necessitamos de transferir capital da China para fazer os nossos investimentos”, disse Guo Guangchang ao Expresso.

Jorge Magalhães Correia faz parte de um grupo de gestores que, segundo a Fosun, se destaca pela excelência e espírito empreendedor
TIAGO MIRANDA
Os gestores do Grupo Fosun em Portugal
O presidente executivo da Fidelidade e chairman da Luz Saúde é o homem forte da Fosun em Portugal, um lugar que foi ganhando desde que o grupo chinês comprou a maior seguradora do Estado, em maio de 2014. Nesse mesmo ano, em outubro, Magalhães Correia esteve na linha da frente na aquisição do grupo de saúde da família Espírito Santo, hoje Luz Saúde. É também o gestor em quem a Fosun confia na procura de investimentos para o grupo na Europa e nos PALOP. Magalhães Correia tem sotaque alentejano e move-se bem na área financeira, onde fez carreira. Em 2016, a Fosun criou um grupo de personalidades – Fosun Group’s Global Partner – do qual fazem parte 16 gestores, Magalhães Correia está lá. Fazer parte deste grupo é um dos maiores reconhecimentos que a Fosun atribuiu a pessoas que se destacam pela excelência, espírito empreendedor e na procura de inovação. Este reconhecimento foi atribuído a administradores e presidentes de companhias compradas pelo grupo. Advogado, iniciou o seu percurso como docente na Faculdade de Direito de Lisboa, onde esteve durante nove anos. Foi dirigente da Inspeção-Geral de Finanças, passou pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e entrou no Grupo Fidelidade em 1994, ou seja, há 23 anos. É também vice-presidente da Associação Portuguesa de Seguradores e administrador não executivo da REN, por via de uma posição de 5,3% que a Fosun tem na elétrica controlada pela State Grid. Foi uma peça chave na entrada da Fosun no capital do BCP, onde o grupo chinês é o maior acionista.

Isabel Vaz assumiu a liderança da Espírito Santo Saúde desde a sua fundação. Mereceu a confiança dos novos donos
Luís Barra
Foi em 1999 que Isabel Vaz começou a preparar o projeto hoje conhecido como Luz Saúde. O grupo que lidera como presidente da comissão executiva, fundado em 2000, foi o primeiro da área da saúde a ser cotado em bolsa. Estávamos em fevereiro de 2014 e na estreia no mercado de capitais aliena 49% do capital. Em outubro, após o colapso do GES, a seguradora Fidelidade (detida pela Fosun) adquire o controlo da então Espírito Santo Saúde (96%). Isabel Vaz é licenciada em Engenharia Química pelo Instituto Superior Técnico (1990). Nasceu no Porto, mas foi em Setúbal que cresceu. Combativa na gestão e respeitada pelos seus rivais no sector, começou a sua carreira no Laboratório de Biotecnologia Experimental. Foi engenheira de projeto fabril no Grupo Atral Cipan e em 1992 entrou para a consultora McKinsey. Sete anos depois de assumir funções como gestora na consultora – onde participou sobretudo em projetos da área financeira (banca e seguros) –, mudou radicalmente de vida. Investiu durante 17 anos todas as suas energias para tornar rentável o projeto que ajudou a construir de raiz. Lidera mais de nove mil colaboradores em 18 unidades de saúde, entre as quais o Hospital da Luz, em Lisboa (em expansão). Além da Luz Saúde, faz parte do Conselho de Faculdade da Nova School of Bussiness and Economics, da Universidade Nova de Lisboa, e é membro do Conselho Geral da Universidade de Lisboa. Isabel Vaz e a sua equipa mantiveram-se imunes ao terramoto que abalou o GES. Permanece na liderança do grupo com a confiança e admiração dos novos donos.
Este artigo é parte integrante da Exame de abril de 2017