A Europa está mais sedutora. Quem o diz são os 120 clientes inquiridos pela Schroders provenientes da Europa, Médio Oriente, Estados Unidos e América Latina. O estudo demonstra que as ações do Velho Continente tornaram-se uma das classes de ativos mais atrativas, com 41% dos intermediários a anunciarem querer aumentar a exposição dos seus clientes a este sector até ao final de 2012. Quase três quartos (72%) afirmaram já ter revisto o risco das carteiras ou esperam fazê-lo nos próximos seis meses. Para Peter Becket, responsável pelo Marketing Internacional da sociedade gestora, estes resultados refletem um ponto de viragem. “Com as avaliações a parecerem particularmente atrativas, isto pode significar que podemos estar na altura certa de reentrar nos ativos de risco.”
Rui Olo, responsável pelos investimentos na Direção de Marketing do ActivoBank, concorda que os preços das ações europeias estão atrativos quando comparados com os de outras regiões. “A política desenvolvida pelo BCE na era Draghi tem vindo a transmitir maior confiança ao mercado quanto à preservação do euro, essencial para um clima de confiança que possa sustentar a atividade económica e, consequentemente, a evolução do mercado acionista europeu”, adianta.
Jorge Guimarães, gestor de ativos no Banif IB, recomenda cautela na hora de investir, visto as empresas com maior exposição às economias periféricas continuarem a sofrer pressões nas vendas e lucros. Para Rui Broega, diretor de gestão de ativos no Banco Big, o risco destas oportunidades ainda é considerado elevado face à conjuntura, mas admite que os títulos europeus têm apresentado yields médias (rendimentos anuais) mais vantajosas do que as verificadas em empresas americanas ou japonesas, por exemplo.
Os investidores que optarem pela classe de ativos com menor risco, as obrigações, deparam agora com rentabilidades negativas. “À exceção da dívida de alguns países em crise, a maioria das obrigações das boas economias ou de empresas com bons negócios, se descontada a inflação, não chegam sequer a preservar o capital investido. Isto quer dizer que os ‘ativos seguros’ estão caros”, explica Rui Bárbara, gestor de ativos do Banco Carregosa. Para o especialista, apesar de o preço das ações europeias estar longe do que historicamente se considera atrativo, quando comparado com o das obrigações, conclui-se que está mais barato. “Quem investir em ações hoje vai ter melhor retorno a cinco ou a dez anos do que quem optar pelas obrigações.”
Fogem mas também regressam
Rui Olo explica que a incógnita em torno do euro foi aumentando com o envolvimento dos países de maior dimensão. “Há ondas de fuga de investidores que regressam quando percebem que afinal o mercado não explodiu. Mas são sempre menos os que regressam do que os que saem”, acrescenta Rui Bárbara. Para Rui Broega, os problemas europeus não se esgotam no endividamento e nas taxas de desemprego. A fraqueza do sistema político, económico e social de alguns países contribui para as interrogações que se têm criado em torno da coesão da zona euro e da moeda única. A título de exemplo, o índice representativo da bolsa grega perdeu 60% desde o início de 2010, enquanto o DAX alemão aumentou 18% no mesmo período. Segundo Jorge Guimarães, as empresas mais expostas ao mercado português e grego, por exemplo, e com níveis de dívida mais elevados foram fortemente penalizadas.
Se optar por investir no mercado europeu, diversifique a carteira. Mais: não esteja sobreposto aos países onde a crise mais se faz sentir e verifique que ativos estão efetivamente baratos. “Algumas das melhores empresas europeias encontram-se em máximos de muitos anos”, diz o responsável do ActivoBank.
O investimento deve ser feito a longo prazo, consciente da volatilidade dos próximos dois a três anos, e as empresas muito endividadas evitadas, recomenda Diogo Serra Lopes. “A situação na Europa ainda se mantém com um considerável grau de incerteza e bastante dependente das opções políticas que serão tomadas nos próximos meses”, acrescenta o diretor de investimentos do Banco Best. Para Rui Broega, por sua vez, é importante que a estratégia dos investidores obedeça a alguns critérios básicos: a locação deve ser globalmente mais defensiva e geograficamente mais diversificada. Jorge Guimarães deixa outra dica: a aposta dos investidores deve recair em empresas com modelos de negócio sólidos e, de preferência, líderes nos seus segmentos de mercado.
Aposta nos emergentes
Tecnologia e bens de consumo. São estes os sectores europeus que Rui Olo mais recomenda aos investidores. A razão está no “bom equilíbrio” entre risco e rendibilidade potencial. Para este especialista, empresas com muitos negócios fora da zona euro e que atuem em diversas geografias também podem ser boas opções, assim como as que apresentem bons resultados e que, proporcionalmente, tenham dividendos com rendimentos elevados.
“Certamente que há valor em países como Portugal, Espanha e Grécia, mas até esse valor emergir muita coisa pode acontecer”, alerta Rui Bárbara. No prazo de 10 anos, os títulos podem dar retornos superiores aos dos ativos sem risco, mas com alta volatilidade. Por isso, aconselha os investidores a optarem por empresas que estejam seguras nos mercados em que atuam, tenham bons modelos de negócio e estejam razoavelmente baratas.
Para Rui Broega, as atenções devem recair sobre as empresas de referência, que refletem uma maior interligação com a evolução da economia mundial. “É o caso de alguns fabricantes ou produtores de bens transacionáveis, como a BMW ou a Louis Vuitton, e de algumas empresas que operam no segmento da alimentação e bebidas, como a Nestlé e a Anheuser-Busch InBev, que poderão beneficiar da transformação que está a materializar-se nas economias emergentes, em particular, na rápida expansão da classe média”, diz o especialista. Numa lógica distinta, Rui Broega também acredita que faz sentido estar exposto a empresas que se encontrem em países sob maior pressão e daí retirar perspetivas de retorno superior. Contudo, ressalva que os nomes a selecionar nas regiões periféricas devem apresentar uma exposição aos mercados internacionais superior à que têm no mercado doméstico.
Jorge Guimarães concorda que os sectores ligados à melhoria dos padrões de consumo nos mercados emergentes devem continuar a crescer. E destaca o sector petrolífero, porque conjuga níveis elevados e sustentáveis de remuneração acionista e está exposto aos mercados emergentes e à valorização das matérias-primas. “Numa ótica mais tática e para investidores com maior apetite por risco, que queiram beneficiar de eventuais movimentos de curto prazo, o sector segurador continua a apresentar níveis de valorização muito interessantes.” O mercado alemão também se mantém bastante atrativo, dada a exposição que tem às economias do centro e norte da Europa e às emergentes.
Rui Broega deixa um último conselho: os investidores devem evitar empresas cuja dinâmica operacional esteja muito dependente do mercado europeu, bem como as que necessitam de refinanciamento significativo a curto ou médio prazo.
SEIS POLOS DE ATRAÇÃO
Conheça as empresas europeias eleitas pelos especialistas como boas apostas de investimento
Swatch Group
Fundado em 1983 por Nicolas Hayek, o grupo suíço detém atualmente 19 marcas, como a Swatch, a Tissot ou a Omega. O mercado asiático representa mais de metade (54%) das vendas do grupo que em 2011 criou mais de 2800 novos empregos. Rui Broega afirma que a empresa negoceia com níveis de dívida bastante reduzidos quando comparados com a realidade do sector. No ano passado, a empresa liderada por Nick Hayek Jr. atingiu os 7,143 mil milhões de francos suíços em faturação, mais 21,7% do que no ano passado. Os lucros também aumentaram 18%, para 1,276 mil milhões de euros.
Sanofi-Aventis
A outra empresa eleita por Rui Broega é a Sanofi-Aventis, multinacional com sede em Paris que atua na área da investigação, desenvolvimento, fabrico e comercialização de produtos farmacêuticos. “A Sanofi-Aventis tem vindo a diminuir a sua exposição ao mercado farmacêutico europeu, que tem sido bastante penalizado pelas recentes medidas de austeridade, e aumentado a sua presença nos mercados emergentes”, diz. O investimento que a organização liderada do Chris Viehbache fez em medicamentos para a diabetes também poderá vir a suportar o seu crescimento no futuro, tornando-a ainda mais atrativa.
Nestlé
Para Rui Bárbara, a escolha deve recair sobre empresas de qualidade, com bons planos de negócios, uma procura tendencialmente assegurada, pouco endividadas e com mercados geográficos variados. A Nestlé é disso exemplo. “É difícil imaginar um cenário onde não se venda comida para bebé ou chocolates”, diz. A empresa suíça existe desde 1886, opera em 83 países e emprega cerca de 330 mil colaboradores. Em 2011, a crise no consumo também teve impacto nas vendas. Passou de 93,015 mil milhões de francos suíços em 2010 para 83,642 mi milhões no ano seguinte. Na apresentação dos resultados dos nove meses de 2012, as vendas tinham subido 11% e atingiam os 67,6 mil milhões de francos suíços.
Schindler
A Schindler é outro exemplo que deve estar na mira dos investidores, segundo Rui Bárbara. A empresa que concebe, instala e garante a manutenção de sistemas de transporte em edifícios, como elevadores e escadas rolantes, “está a ganhar muitas receitas com a manutenção”. No ano passado, a Schindler, que atua em mais de 140 países, obteve receitas na ordem dos 7,854 mil milhões de francos suíços, menos 333 milhões do que no ano anterior. Em setembro de 2012, a Schindler já contava com um aumento de 8,2% nas encomendas recebidas e outro de 6,5% nas receitas, desde o início do ano.
LVMH
A empresa de produtos de luxo é uma das ações europeias mais atrativas para Jorge Guimarães. “Apresenta uma posição competitiva e um portefólio de marcas único, que lhe permite continuar a ser um dos principais beneficiários da expansão das classes médias e altas nos mercados emergentes, tendo multiplicado os seus lucros por quatro nos últimos nove anos”, diz. Fundada em 1987 por Moet Hennessy e Louis Vuitton, a LVMH atua em mercados como a moda, a cosmética, a joalharia, a perfumaria, os relógios ou os vinhos. Na primeira metade de 2012, as receitas da empresa atingiram os 10,292 mil milhões de euros, mais 2,674 mil milhões do que no mesmo período no ano passado.
ENI
“Sendo uma das principais petrolíferas europeias, a ENI apresenta níveis de remuneração acionista elevados e níveis de valorização atrativos, estando, neste momento, num processo de vendas bastante bem recebido pelo mercado”, afirma Jorge Guimarães. Nos primeiros nove meses de 2012, a empresa italiana aumentou as vendas líquidas das operações para 94,697 mil milhões de euros, contra 78,042 no período homólogo. Os lucros também subiram 10,3%, tendo atingido os 6,162 mil milhões de euros de janeiro a setembro de 2012.
ALERTA
Investidor prevenido ganha por dois
1. Evite títulos alavancados
As empresas com elevada alavancagem e centradas na prestação de serviços não são boa opção, segundo Rui Olo.
2. Escolha a qualidade
Rui Bárbara desaconselha o investimento em empresas de baixa qualidade, pouco diversificadas e que tenham um plano de negócios pouco sustentável.
3. Resista ao endividamento
Para Jorge Guimarães, é importante que evite empresas com níveis elevados de endividamento, sobretudo se estiverem localizadas na periferia da Europa.
Este artigo é parte integrante da edição 345 da Revista EXAME