O exemplo foi dado por Gil Sousa, administrador e cofundador da ESI Robotics, empresa de base tecnológica que desenvolve soluções industriais inovadoras, à medida das necessidades específicas de cada cliente. Neste caso, referia-se à Corticeira Amorim, o maior grupo de transformação de cortiça do mundo, à procura de um sistema de alinhamento de rolhas, que lhes permitisse uma poupança de 30% no transporte das mercadorias, ou seja, a redução de um terço da pegada ecológica. “Era um desafio complexo, mas se chegássemos a uma solução, sabíamos que o cliente iria comprar”, testemunhou. E assim foi, ficando inclusive com a propriedade intelectual da ideia.
Esta preocupação com soluções verdes é um “fator de distinção” da ESI Robotics, defendeu, durante o segundo painel das ESG Talks – cuja quarta e última sessão do ano tinha como mote a “Inovação Sustentável na Tecnologia, Construção e Exportação” –, que decorreu esta quarta-feira no Fórum de Braga. “Nunca somos a empresa mais barata, porque nivelamos o produto por cima, mas embora haja um investimento maior no início, também há um rendimento maior a longo prazo”, explica Gil Sousa, nomeadamente com máquinas que exigem menor manutenção. “As novas gerações já têm a consciência que o barato sai caro”, aponta o empresário.
Em áreas como o Têxtil, Portugal já é reconhecido como um país relevante na produção sustentável, sobretudo pelo resto da Europa. “Houve quem dissesse que o setor da moda é o segundo mais poluente do mundo e, nos últimos anos, houve uma grande evolução”, sublinha António Braz Costa, diretor-geral do Centro Tecnológico Têxtil e Vestuário (CITEVE), e do Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes (CeNTI), sediados em Vila Nova de Famalicão. “A indústria têxtil percebeu que isto era negócio e fez esse caminho. As marcas vieram a Portugal à procura de coisas mais sustentáveis. Contudo, é um turbilhão é refletir nos preços os custos de fabricar com sustentabilidade”, indica.
Uma empresa como a Cachapuz, com 105 anos, líder em Portugal na conceção de equipamentos e soluções de pesagem de precisão, manteve-se no mercado graças à reinvenção constante. “Exportamos desde a década de 50, temos tido sempre uma perspetiva a longo prazo, e a sustentabilidade faz parte da nossa estratégia… envolvemos os colaboradores neste desafio e a multinacional [a empresa foi adquirida por um dos maiores grupos mundiais dedicados à pesagem, o grupo italiano Bilanciai] onde estamos inseridos”, testemunha Juliana Silva,a diretora de marketing.
O know-how de inovação sustentável das empresas portuguesas, nomeadamente no setor têxtil, é de assinalar. “A sustentabilidade não é filosofia, é muito rica em conhecimento. Tivemos tinturarias que fizeram a redução de 60% da água, algo enorme, que tem retorno a vários níveis, não só de imagem. A água é extremamente cara, assim como a sua reciclagem”, exemplifica António Braz Costa. Não admira que, recentemente, tenha recebido a visita de um reitor de uma universidade chinesa, em busca desse mesmo conhecimento.
Gil Sousa não tem dúvidas: “O velho continente continua a ser o professor do resto do mundo. E a sustentabilidade, mais do que a preocupação com as empresas – embora tenha de haver um equilíbrio com a rentabilidade –, é a preocupação com as pessoas.”
O painel foi também marcado pela partilha de exemplos práticos de transformação em que se cruzam a tecnologia, a inovação e a sustentabilidade, com foco nos setores tecnológico e têxtil, com grande peso na economia da região do Minho.
A fechar as ESG Talks esteve Ricardo Rio, presidente da câmara municipal de Braga e do conselho de administração da InvestBraga, a agência para a dinamização económica do município que também foi parceira do evento. “Há um alinhamento estratégico de nos afirmarmos como um território inovador, competitivo, sustentável. A tendência será para apertar estes critérios, por razões financeiras, culturais, competitivas”, afirmou. E terminou, desejando que conferências como esta proporcionem “uma contaminação positiva”.
As ESG Talks são uma iniciativa promovida pelo novobanco, que conta com as revistas VISÃO e EXAME como parceiros, e com o apoio da PwC e, nesta sessão, da InvestBraga.