O futuro é verde ou não existe. Foi com base neste pressuposto que decorreu uma das discussões da última edição das ESG Talks, em Évora, tendo como setor de foco a Agricultura.
Nesta quinta-feira, 20 de junho, o primeiro painel teve como convidados José Velez – Vice-presidente da CCDR Alentejo, Rita Andrade Soares – CEO da Herdade da Malhadinha Nova, e Silvina Morais – ESG Manager na The Summer Berry Company, que refletiram sobre o tema “Estratégias para um futuro verde”. O painel contou com a moderação de Margarida Vaqueiro Lopes, subdiretora da VISÃO.
Esta foi a segunda conferência da terceira edição das ESG Talks – iniciativa promovida pelo novo banco, pela VISÃO e pela EXAME, em parceria com a PwC – que irá percorrer o País desde Sul até Norte. O palco foi o PACT – Parque do Alentejo de Ciência de Tecnologia.
O debate começou com a intervenção de José Velez, vice-presidente da CCDR Alentejo – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo – que referiu que “a agricultura é fundamental e tem de ser tratada como um setor de primeira ordem”. Para Velez, a aposta na inovação tecnológica e a partilha e transmissão de conhecimentos – principalmente entre diferentes gerações de agricultores – são aspetos fundamentais que fazem o setor evoluir. “Saber inovar e transmitir é fundamental”, explicou. Velez acredita também que o setor agrícola em Portugal deverá adotar as estratégias necessárias que permitam ao país ser o mais autossustentável possível ao aplicar medidas que contribuam para a diminuição do défice e equilibrar entre as importações e exportações.
Já Rita Andrade Soares, CEO da Herdade da Malhadinha Nova, abordou o impacto que o projeto pretende ter para além da produção de produtos certificados como o vinho, azeite e mel. A Herdade, que começou como um projeto familiar em 2017, pretende apostar na criação e desenvolvimento agrícola, fomentar a biodiversidade e a partilhar os produtos portugueses com outros mercados internacionais. É, aliás, um exemplo de como procurar equilibrar a atividade agrícola com a turística. “A Malhadinha é uma marca global com uma componente turística muito forte”, contou. A empresa possui ainda uma forte componente educativa, aliada ao Turismo, que aposta na partilha de práticas de produção sustentáveis, “Queremos sensibilizar as pessoas e ser um exemplo para o futuro”, concluiu.
Já para a empresa The Summer Berry Company, na qual Silvina Morais é ESG Manager, a ideia é deixar que a natureza siga o seu curso. “Temos de perceber o que temos naturalmente. A natureza tem as respostas. Menos é mais”, explicou. A empresa, cujo foco é a produção de framboesas, começou a sua atividade através de um “erro”, nas suas palavras, na plantação do fruto que levaram Silvina Morais e a sua equipa a adotar práticas agrícolas mais antigas e características de produção menos convencionais. “É muito engraçado ver como as pessoas reagem quando me pedem ajuda sobre o que fazer e lhes digo que, no primeiro ano, o ideal é não fazerem nada” (risos). Isto porque é preciso perceber o que a natureza tem ali, para nos dar”. Foi, aliás, assim que Silvina percebeu que as framboesas que produzia em túnel eram muito mais felizes – e melhores – quando deixavam que o ecossistema em seu redor vivesse sem intervenção humana: ervas, bichinhos… tudo isso fez das suas framboesas frutos muitos melhores do que quando eram produzidos em ambiente esterilizado. A The Summer Berry tem atualmente uma produção de 140 hectares de pequenos frutos, maioritariamente framboesas. “É importante voltarmos às origens e pensarmos como é que podemos combinar estes saberes, e partimos com esses conhecimentos”, acredita.
Por fim, José Velez, referiu ainda os principais desafios que o setor primário vai enfrentar na próxima década e que passam por “saber utilizar e aproveitar as novas tecnologias”, “olhar o solo e água como prioridades fundamentais” e “saber compreender o ambiente e saber compreender a agricultura”. Para o vice-presidente da CCDR Alentejo, a agricultura e o ambiente devem ser observados como um todo em que a inovação, a tecnologia e a ciência desempenham um papel essencial.
Já relativamente à falta de mão de obra atual na agricultura, Rita Soares Andrade considerou ser fundamental que as empresas adotem metas estratégicas bem definidas de forma a “criar condições variadas para que as pessoas [mão de obra] se fixem”. Com mais de 100 trabalhadores, a Malhadinha tem-se deparado com vários desafios neste quesito, e tem apostado em criar pacotes de benefícios que consigam manter as pessoas na empresa e na região, desde disponibilização de habitação até, graças à pertença à Relais Chateaux, descontos consideráveis em unidades da rede, em todo o mundo. Cabe, portanto, aos empresários criar condições de atratividade e retenção de trabalhadores no setor, “mas tendo noção de que as pessoas vão continuar a querer movimentar-se”, admite.