As ESG Talks têm o apoio do novobanco
Vamos trabalhar menos um dia por semana? É difícil prever, mas Pedro Gomes acha que devíamos. Embora lembre argumentos de quebra de atividade económica, o professor de Economia de Birkbeck nota que “a economia é tudo menos linear”. Numa semana de quatro dias, cada um de nós trabalhará menos horas, mas isso terá outras ramificações.
“Tempo livre não é tempo morto para a economia”, sublinhou durante a sua intervenção nas ESG Talks – uma iniciativa do novobanco em parceria com a VISÃO e a EXAME, com os knowledge Partners Nova SBE e PwC. “Se calhar, muitos de nós vamos descansar mais e melhorar o nosso desempenho. Vamos evitar o stress e o burnout, que são as doenças laborais do século XXI. Se calhar, vamos usar esse tempo livre para atividades que envolvam outros gastos (lazer, cultura, restauração hotelaria). Talvez para voltar a estudar, importante numa altura de grande mudança tecnológica.”
Numa apresentação que começou com uma sondagem prévia ao público presente, 53% respondeu que a semana de quatro dias será normal no futuro, mas não para já. Citando uma série de mudanças sociais nas últimas décadas, Pedro Gomes tentou virar essa ideia ao contrário. “O que é mais excêntrico: pensar que devido a essas alterações é preciso equacionar mudanças no número de dias de trabalho; ou que devemos assumir os cinco dias como uma constante matemática ou um mandamento divino?”, questionou, recordando que “a semana de trabalho é uma construção social, económica e política” que deve acompanhar a evolução das sociedades.
Além disso, lembrou a previsão do economista John Maynard Keynes que antecipou que, por esta altura, estaríamos a trabalhar apenas 15 horas por semana. “Há a ideia de que vamos sempre trabalhar menos no futuro, mas não agora, e que falar disso é um sacrilégio”, apontou Pedro Gomes.
Se a forma como estamos a trabalhar não é sustentável, a semana de quatro dias “não pode ser pensada como uma recompensa, mas como uma possível solução” para esses problemas.
O economista está a coordenar um projeto-piloto que abrange mais de mil trabalhadores em 41 empresas portuguesas, que adotaram a semana de quatro dias provisoriamente ou permanentemente. “A passagem para a semana de quatro dias já está a acontecer. Cabe aos líderes saberem se querem ser uma força de bloqueio, se o querem ignorar ou se querem ser uma força de mudança”, afirmou.