Na abertura do último capítulo das ESG Talks, uma iniciativa do novobanco, organizada pela VISÃO e pela Exame em parceria com a PwC e a Nova SBE, foram feitos repetidos apelos ao investimento no conhecimento e na economia do mar.
Luís Veiga Martins, Associate Dean for Community Engagement & Sustainable Impact da Nova SBE, abriu a conferência recordando que Portugal é “o quinto maior país da Europa e um dos 15 maiores do mundo em termos de expansão marítima”, o que é um fator com um elevado valor económico. “A economia azul pode ajudar a cumprir o objetivo de crescer de forma sustentável e ainda alimentar a população”, garantiu. “Mas para isso é preciso colmatar as falhas no ensino sobre o mar.”
Luísa Soares da Silva, Executive Board Member do novobanco, reforçou que “o oceano é o maior recurso ecológico nacional” e que “falar de Portugal é falar do mar”. “É a nossa identidade geográfica, e a nossa economia está fortemente dependente dessa identidade. Portugal conta com uma as maiores Zonas Económicas Exclusivas do mundo”. A gestora sublinhou que 5% da nossa economia depende do oceano (somos o sétimo país do mundo em que a economia do mar tem maior peso), mas esse valor poderá ser ainda maior. “Será preciso bastante inovação, nomeadamente nas energias renováveis. Estes setores oferecem um potencial enorme para o crescimento económico.”
Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais, concordou que esse potencial existe, mas lamentou que esteja a ser desperdiçado. “Para mim, é chocante o desperdício de todo este lençol azul. São muitos os políticos que falam sobre o mar, mas depois a consequência é absolutamente nenhuma.”
O autarca pegou no exemplo de Cascais, lembrando que a área marítima do concelho é 100 vezes superior aos 97 quilómetros quadrados do concelho”, para mostrar que Portugal tem tudo a ganhar se crescer para o mar – agigantando-se assim no panorama internacional, recordando a propósito uma reunião que teve com o número dois do governo chinês, durante a visita de uma delegação que integrou à China. “Comecei por lhe dizer que a China estava a cometer um grande erro, que era apostar no projeto espacial quando tinha muito mais a ganhar no fundo do mar. Captei a atenção dele e perguntou-me: ‘Se mandar uma delegação a Portugal, recebe-os?’ O que é certo é que na semana seguinte fomos contactados pela embaixada da China para recebermos uma delegação.”
Para Carlos Carreiras, o mar pode ser uma saída desta encruzilhada que vivemos, de conflitualidade geopolítica. “O mundo que nos conhecemos acabou. Não temos noção do mundo que há de vir, o que pode criar desespero, mas também pode ser um momento de esperança, de acreditar que há futuro. E são poucas as áreas em que o País tem um ativo tão forte como o mar.”
Mas esse ativo só pode ser aproveitado se houver estratégia, visão e, sobretudo, regulação. “A quantidade de entidades que mandam no mar é extraordinária. E, quando há muita gente a mandar, ninguém manda. Temos de melhorar a regulação. Não podemos estragar o mar como estragámos a terra. Se o fizermos, vamos ser muito mal avaliados pelas futuras gerações. Temos aqui a oportunidade de deixarmos de ser pequenos e periféricos. Não somos um país pobe, mas sim rico, porque temos este recurso. Mas temos de passar do ‘É a falar que a gente se entende’ para ‘É a fazer que a gente se entende’. Parecemos aquelas equipas que só lateralizam, só passam a bola para o lado. Só se ganha jogos se se marcar golos, e nós não rematamos à baliza. Temos de começar a concretizar, aproveitando este recurso.”