
Estamos a fazer mais do que julgamos, mas não tanto quanto poderíamos fazer. Assim resumiu Assunção Cristas, professora da Nova School of Law e advogada of Counsel da VdA, a nossa atitude relativamente ao mar. “Há muitas coisas que fazemos que são pouco percecionadas. Estamos muito à frente do que é a média da UE no peso da economia azul, mas há imensamente mais para fazer. O peso da economia do mar em Portugal é muito significativo e vai continuar a crescer.”
Mas esse crescimento precisa de ser sustentado em conhecimento, avisou a ex-deputada e antiga ministra da Agricultura e do Mar, no painel “A importância do oceano”, nas ESG Talks, iniciativa do Novobanco, organizada pela VISÃO e pela Exame em parceria com a PwC e a Nova SBE (que acolheu a conferência). “O mar é multidisciplinar, toca em muitas dimensões. Precisamos de especialização, de pessoas que tenham uma visão global.” Não que estejamos particularmente atrasados neste domínio, sublinhou: “Somos o segundo país da Europa com mais investigadores per capita dedicados ao mar, depois da Noruega. Um dos problemas do mar na Europa é o desligamento emocional e afetivo dos europeus com o mar. Nós aqui não temos esse problema. Mas precisamos de garantir que pessoas com diferentes visões estão a trabalhar em rede.”
Para Assunção Cristas, o alargamento da plataforma continental, que continua a ser negociada, é um falso problema. “Esta ideia de querermos muito mais leva-nos a desfocar. Já temos imenso mar! A nossa Zona Económica Exclusiva é enorme e fantástica. A forma como a vamos utilizar deve ser o nosso foco. Não podemos ficar à espera da plataforma continental para fazer alguma coisa.”

A sua companheira de painel Helena Freitas, bióloga e professora universitária, argumentou que a abordagem ao mar não é fácil, també, mas não só, por ser um tema multidisciplinar, e que isso talvez explique por que razão, “em termos de política ambiental, não tem sido uma centralidade”. Ainda assim, assegurou, “a comunidade científica tem feito um trabalho extraordinário nesta área”. “É a ela que devemos alguma resiliência do mar na política internacional.”
E esta é a altura de valorizarmos a biodiversidade marinha, acrescentou. “É um recurso fundamental, que está na base de tudo o que vamos buscar na área da alimentação, na beleza dos estuários e da zonas costeiras, na abordagem ao turismo. Temos de trabalhar de forma séria nos ecossistemas marinhos, de avançar com uma agenda muito forte para o restauro ecológico.” A bióloga reforçou que a conservação da natureza é determinante para o futuro de Portugal. “Ajuda a capitalizar os investimentos de que precisamos no quadro da sustentabilidade, pelo que há que garantir que as áreas protegidas são funcionais, garantem o seu desígnio e criam as linguagens indutoras de investimento. Temos de colocar a natureza na atividade económica.”

Finalmente, Nuno Lourenço, presidente da +Atlantic CoLAB e BD manager na CeiiA, alertou para alguns assuntos a que não estamos a dar a atenção devida, nomeadamente as zonas mortas, que “têm implicações enormes para a biodiversidade”. Mas também alinhou com as suas companheiras de painel na necessidade de apoiar a defesa dos valores naturais marinhos na economia. “Não podemos fazer grandes planos sem pensar na sustentabilidade financeira.”

Nuno Lourenço mostrou-se ainda favorável ao estudo da viabilidade de exploração dos recursos marinhos, no contexto da descarbonização. “A economia verde e a transição energética carecem de metais. Esses metais estão a ser explorados em terra, mas no fundo do mar é possível explorá-los com menos impactos. O princípio da precaução não pode impedir a investigação, que é a única maneira de fazer projetos-piloto, para verificar os impactos no terreno. Não fazer nada não é opção. Sem esses metais, como fazemos a transição energética?”