Nas quatro décadas que durou, nunca o poder de Salazar se viu tão abalado como na primavera de 1958, quando um general que até então colaborara com o regime (negociara a concessão das bases dos Açores, fundara a TAP e fora chefe de missão nos EUA) tomou a resolução de concorrer à Presidência da República, com apoio da oposição, e se atreveu a prometer que, se fosse eleito, demitiria “obviamente” o ditador. As palavras de Humberto Delgado, bem como a sua atitude corajosa e confiante, calaram fundo no coração de milhões de portugueses, que se esqueceram dos receios recalcados e vieram para a rua manifestar o seu apoio ao homem que encarnava a esperança.
Mas o resultado da eleição estava escrito desde o início.
Recorrendo à sua esmagadora máquina repressiva proibição de comícios e de acesso à TV, cargas policiais, denúncias, intimidações, prisões, censura à imprensa… o regime “atribuiu ” a vitória ao seu apagado candidato, almirante Américo Tomás, cuja principal característica era a cega fidelidade.
Posteriormente afastado das Forças Armadas, exilado no Brasil e na Argélia, Delgado jamais deixaria de conspirar contra a ditadura, aparecendo aos olhos do mundo como o maior inimigo de Salazar.
Há exatamente meio século, a 13 de fevereiro de 1965, uma brigada da PIDE atraía a uma cilada o General sem Medo e espancava-o até à morte, num gélido plaino abandonado que a brisa da memória aquece. É a história da vida e da morte deste homem-símbolo da oposição à ditadura que neste número se evoca.
Sumário
Imagens
Perfil – O homem que desafiou Salazar
II Guerra Mundial – Ao serviço da causa aliada
EUA – Os ares da América do Norte
Aviação – Era uma vez a TAP
Opinião – ‘Eles vão destruir-te, Humberto’, Por Frederico Delgado Rosa
Campanha Presidencial – ‘Vamos ganhar as eleições’
Testemunhos – Maria Antónia Fiadeiro, Maria Antónia Palla, Artur Santos Silva
Imprensa – Obviamente censurado
Asilo – O prisioneiro da embaixada
Brasil – As amarguras do exílio
Clandestino – Viagem secreta a Portugal
Opinião – A PIDE atrás de Delgado, Por Irene Flunser Pimentel
Assassínio – Encontro com a morte
Imprensa – Outono à volta do mundo
Julgamento – Fez-se justiça?
Opinião . O Processo Delgado perante o tribunal português, Por António Santos Carvalho
Entrevista – Mário Soares
Cartas – Contra a repressão