Yasmin Bhudarally, CEO da NEYA Hotels, era mãe de primeira viagem, quando, aos três meses, a filha teve de ser internada no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa. A residir fora da capital, todos os dias, Yasmin tinha de deixar a filha no final do dia para regressar a casa com um intenso sentimento de abandono.
Quis o destino que, anos mais tarde, Yasmin adquirisse um edifício para efeitos hoteleiros perto do mesmo hospital que acolhera a filha. E as memórias dos tempos difíceis lançaram a semente para ajudar famílias não residentes em Lisboa e no Porto cujos filhos têm de ficar aí internados: o Quarto Solidário.
O que é o Quarto Solidário?
É uma iniciativa de responsabilidade social do grupo NEYA Hotels que permite que as famílias que vivem fora de Lisboa ou do Porto e cujos filhos necessitam de ser internados nos hospitais com quem temos acordo fiquem alojadas de forma gratuita nos nossos hotéis, com direito a pequeno-almoço.
Como surgiu esta iniciativa?
Quando fui mãe, a minha filha foi internada, com três meses. Além de passar com ela uma situação que, por si só, já era difícil, ao final do dia, tinha de me ir embora para casa [fora de Lisboa] e ela ficava no hospital. Para mim, era um sentimento de abandono muito, muito forte que tinha com a minha filha. A vida, entretanto, muitos anos depois, proporcionou que adquirisse um edifício que estava programado para um projeto hoteleiro. A proximidade com o Hospital D. Estefânia, onde tudo aconteceu, inspirou-me a procurar soluções para fazer a diferença na vida daqueles pais, que, como eu, poderiam estar a ter o mesmo sentimento. No ano seguinte à abertura do NEYA Lisboa Hotel, em meados de 2012, avançámos com o projeto Quarto Solidário.
Como chegam as famílias ao Quarto Solidário?
Normalmente, são famílias que estão longe de casa e não conseguem pagar um quarto para pernoitar em Lisboa ou no Porto. O hospital identifica-as através da sua ação social, que depois as encaminha para a NEYA Hotels.
“A proximidade com o Hospital D. Estefânia, onde tudo aconteceu, inspirou-me a procurar soluções para fazer a diferença na vida daqueles pais”
Yasmin Bhudarally, CEO da NEYA Hotels
Quantos Quartos Solidários existem?
Não temos um número de quartos restrito ao projeto. As assistentes sociais dos hospitais contactam o hotel, que disponibiliza os quartos que houver disponíveis. Até hoje, só recusei um Quarto Solidário, por a reserva ter sido feita no próprio dia e o hotel já estar cheio. Mas já houve alturas em que só tínhamos um ou dois quartos disponíveis, e não deixei de os canalizar para o projeto.
Durante quanto tempo se pode usufruir do Quarto Solidário?
Não há limite de tempo. Tudo depende da necessidade das famílias em articulação com a disponibilidade do hotel. Todos os processos têm início na Área de Apoio Social de cada hospital do Centro Hospitalar de Lisboa Central, que encaminha as famílias para o NEYA Lisboa Hotel onde são recebidos e acompanhados por um colaborador durante toda a estadia. Por exemplo, no confinamento durante a pandemia, acolhemos várias famílias que ficaram cerca de 45 dias.
Para a Yasmin, a indústria hoteleira deve ter um papel ativo na comunidade?
Sempre defendi a relevância do compromisso social e o propósito da NEYA Hotels reflete-o. A indústria hoteleira tem um grande impacto na comunidade em que se insere e é crucial que a responsabilidade social tenha destaque no seu posicionamento. Felizmente, já vemos cada vez mais players do Turismo a colocar em prática esta visão.