Não sei como os alunos do secundário chamam, hoje, àquelas horas sem nada para fazer encaixadas entre duas aulas, ou porque o professor falta ou porque o horário é mesmo assim. Nós chamávamos-lhe “feriado”. E lembro-me que às terças-feiras, mas já nem sei bem de que ano, tinha um “feriado” estrategicamente colocado a meio da manhã. Rapidamente o ocupei com um ritual. Despistava os colegas e eventuais programas de grupo, saía sozinho do liceu, ia comprar o Blitz e corria para o Café Monteneve esperando que a mesa da janela estivesse livre. Pedia um café, vício recente, e devorava o jornal que nesse dia chegava às bancas de todo o País. Tudo isto, recordo, dava-me um grande prazer. Ali, na Guarda, era transportado para sítios e imaginários desconhecidos. Imaginava vividamente o mítico Rock Rendez-Vous (onde nunca pus os pés), na minha cabeça soavam músicas e canções que só podiam ser inventadas no momento a partir do que lia (quem cresceu com a música acessível imediatamente com um simples toque num ecrã dificilmente imagina o que era passarem semanas até conseguirmos ouvir determinada canção, banda ou artista…), divertia-me com as bocas dos Pregões & Declarações, uma espécie de rede social onde a resposta a um insulto (entre metaleiros, vangs, betos…) ou a uma busca romântica (“Estavas com uma t-shirt dos Sonic Youth na primeira fila do concerto…”) demorava uma semana a chegar, em papel impresso. No Monteneve, estava longe dali.
Hoje à noite estarei no concerto que celebra os 40 anos do Blitz.