Lembram-se do caso da indemnização da TAP à ex-administradora Alexandra Reis, que acabou por provocar a demissão do ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos? Pois este caso é muito mais grave. Envolve não meio milhão, mas centenas de milhões – sim, no plural – e, à data dos factos, colocou em causa a sobrevivência de uma companhia aérea nacional e estratégica que, sem o resgate posterior, não se teria safado. O caso parece complicado, devido à “criatividade” financeira que lhe está subjacente, mas é muito fácil de entender. Talvez uma parábola, em formato de anedota, ajude a explicar. Sabem aquela do homem que se dirigiu a um amigo pedindo-lhe 50 euros emprestados? O amigo consultou a carteira e verificou que, naquele momento, só tinha 20 euros à mão. Ao que o primeiro respondeu: “Não faz mal. Ficas a dever-me trinta”. Pois foi com esta lógica que a Gateway, consórcio formado pelo investidor David Neeleman e por Humberto Pedrosa, homem forte da Barraqueiro – e que estava ali mais para cumprir a quota de investidor com passaporte da UE do que outra coisa… – terá comprado a TAP, na privatização, à má fila, decidida em 2015. Ou seja: os homens deram 10 milhões de euros ao Estado (uns trocos que tinham à mão) e, depois, para capitalizar a companhia, sem meterem um cêntimo do seu bolso, contrataram com a Airbus um “adiantamento” de 226 milhões de euros. Ao mesmo tempo, garantiram ao gigante europeu que lhe comprariam 53 aviões (não se sabe bem para quê) acima do valor de mercado. E desistiam de um contrato anterior da compra de doze A350 a preço de promoção, aparelhos que a Airbus podia, agora, vender a outros, por um preço muito mais especulativo. A TAP adiantava o capital para ser comprada. O pêlo do mesmo cão.
VISÃO DO DIA: Orienta-me aí 226 milhões…
