Governantes, dirigentes da PSP, sindicatos e polícias deixaram de falar a mesma língua. Ver polícias a lutar pelos seus direitos não é, não pode ser, motivo de alarme; nem sequer, aliás, é novidade. Mas o facto de, desta vez, a maioria parecer ter abdicado de se sentar à mesa de negociações, passando, em alternativa, a deixar-se guiar por movimentos sem rosto, ao encontro de ações cada vez mais radicais, talvez seja caso para qualquer cidadão perguntar: até onde?
Mas recuemos 24 horas. Nesta quarta-feira, isto aconteceu: a plataforma de sindicatos e associações da PSP e GNR anunciou a realização de vigílias nos aeroportos e portos, para dia 15, e nova manifestação, em Lisboa, para 19. O comandante da Unidade Especial de Polícia (UEP) da PSP, Luís Carrilho, ordenou a abertura de um inquérito para apurar as baixas médicas de 44 polícias do Corpo de Intervenção, apresentadas no passado domingo, quando estes estavam destacados para um jogo de futebol em Lisboa. O mesmo comandante, decidiu “extinguir” o grupo operacional a que pertenciam os polícias, distribuindo estes elementos pelos restantes quatro grupos operacionais do Corpo de Intervenção em Lisboa. Um dos sindicatos da PSP – o Sindicato dos Profissionais da Polícia (SPP/PSP) – falou “em represálias motivadas por pressão política” e “de uma interferência política inaceitável”, e agendou uma concentração para esta quinta-feira, junto ao portão do Corpo de Intervenção, na Ajuda, em Lisboa, acrescentando que havia até elementos disponíveis para passar a noite no local. Horas depois, o mesmo sindicato garantia que, hoje, a situação “poderá ficar sanada” e decidiu adiar ação. Soube-se que cerca de 60 dos 375 polícias que trabalham no aeroporto de Lisboa estão de baixa. O porta-voz da plataforma de sindicatos, Bruno Pereira, acusou o ministro José Luís Carneiro de “condicionar o inquérito aberto” pela Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) às baixas médicas dos polícias que faltaram ao Famalicão-Sporting. António Costa voltou a usar do argumento da “falta de legitimidade” do atual Governo em gestão para solucionar o problema, recordando que a aprovação das carreiras especiais do Serviço de Informações da República Portuguesa (SIRP) e a fixação do suplemento de missão da Polícia Judiciária (PJ) foram decisões tomadas com o executivo em plenitude de funções. Armando Ferreira, presidente do Sindicato Nacional da Polícia (SINAPOL), marcou uma conferência de imprensa, para esta tarde, depois de ter admitido, em declarações à SIC Notícias, uma “forte possibilidade” de as forças de segurança “boicotarem as eleições” legislativas de 10 de março – o que levou o MAI a abrir um inquérito urgente e a convocar, logo para o dia seguinte, o director nacional da PSP (Barros Correia) e o comandante-geral da GNR (Ribeiro Veloso) para uma reunião. André Ventura meteu “lenha na fogueira”, acusando o Governo de estar a retaliar contra as autoridades policiais “que levaram a cabo a Operação Influencer“.