Escrevo estas linhas entalada entre a República e os fiapos da monarquia, mas a pensar no 25 de Novembro. Eu explico: 1. ontem comemorou-se, como de costume na Praça do Município, em Lisboa, os 113 anos da implantação da República portuguesa; 2. amanhã há casamento “real” (assim com aspas altas, claro) da infanta Maria Francisca de Bragança, filha do “pretendente” (mais aspas altas) ao trono Duarte Pio de Bragança, cerimónia onde vão comparecer diversos políticos nacionais; 3. mas o que não me sai da cabeça é a luta ideológica proprietária em que se transformou a data do 25 de Novembro.
Vamos por partes. A digestão do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa é lenta, porque subtil e inteligente foi o seu conteúdo. Marcelo, em modo de meter água fria na fervura em que arde a relação São Bento – Belém, falou de tudo, sem nomear nada. Ao fazer paralelismo com os loucos anos 20, deixou recados ao Governo. Vários: quando alerta para a cegueira política; quando pede ação, mudança e reformas a sério; quando critica promessas vãs; quando diz que o imobilismo é fatal; quando sublinha que instituições internacionais e domésticas ou mudam a bem ou a mal. Para bom entendedor meia palavra basta, já se sabe, e o entendedor no qual estaria a pensar estava mesmo ali na primeira fila, a ouvir.