Em bom português, a notícia da manhã do último sábado teve um gostinho especial: João Rendeiro, ex-banqueiro julgado e condenado a prisão efetiva em vários processos, havia sido detido num boutique hotel de cinco estrelas, nos arredores da cidade de Durban. Há três meses que o antigo presidente do BPP se encontrava em parte incerta, após uma fuga planeada com todo o pormenor e só permitida porque o termo de identidade e residência não impede os arguidos de saírem do País.
A arte da fuga de Rendeiro tornou-se ainda mais chocante porque constituiu a prova provada de que, populismos à parte, o sentimento de insatisfação dos portugueses com a democracia e com as instituições tem, afinal, algum fundamento. Os juízes, a Lei e os tribunais podem até tratar todos por igual, mas não há como argumentar que ricos e pobres têm as mesmas armas quando se defendem na Justiça. Para o choque também contribui a falta de decoro com que, há três semanas, João Rendeiro concedeu uma entrevista à CNN Portugal e ao jornal Tal & Qual (protegida, soube-se agora, por um sofisticado sistema de encriptação israelita que impedia a sua localização).