Há duas semanas, começou a circular nas redes sociais um post de Instagram, entretanto considerado falso e tornado invisível pela própria plataforma, que sugeria não ser seguro tomar a vacina contra a Covid-19 quando se está à espera de bebé ou a amamentar.
No post, era possível verem-se duas imagens, uma de um tweet de uma mulher que tomou a vacina contra a Covid-19 durante a gravidez, e outra de um tweet posterior,onde a mesma mulher diz que o filho morreu.
A legenda da publicação dá a entender que a criança morreu devido à vacina. “Se injetarmos algo no corpo que é incompatível com a vida humana – os resultados são sempre os mesmos”, lê-se.
Apesar de as circunstâncias da morte da criança serem desconhecidas, dados de todo o mundo têm vindo a demonstrar que as vacinas contra a Covid-19 não são prejudiciais nem para grávidas, nem para mães a amamentar, nem para os respetivos filhos.
Vacinas e grávidas
Em primeiro lugar, como sublinha Helena Soares, investigadora principal do Centro de Estudos de Doenças Crónicas da Universidade Nova de Lisboa (CEDOC), “as únicas vacinas que não são aconselhadas para mulheres grávidas são as vacinas de vírus atenuados como as da febre amarela ou uma das da poliomielite”.
Ora, tanto no caso das vacinas de mRNA (Pfizer e Moderna) como nas vacinas de vetores virais (AstraZeneca e Janssen), o vírus nem se encontra presente na vacina, veiculando esta apenas o antigénio que é proteína. Dados da vacinação no mundo real, observados pelo Royal College of Obstetricians and Gynecologists (RCOG) nos EUA, onde mais de 160000 mulheres grávidas foram vacinadas, não levantaram preocupações de segurança.
Estas vacinas estão a ser administradas no último trimestre da gravidez, “à semelhança do que já se fazia com a da gripe” e Helena Soares sublinha que tanto uma gripe como a Covid-19, quando contraídas por uma mulher grávida, podem ter um efeito mais forte, correndo as mulheres “o risco de ficarem seriamente fragilizadas”.
Responsável por seguir um estudo de coorte em grávidas com Covid, no CEDOC, a investigadora revela ainda que nestas mulheres “verifica-se um aumento de partos prematuros, complicações após o nascimento, abortos espontâneos e nados mortos”.
Vacinas e lactantes
Também a possibilidade de algum componente da vacina passar da mãe para o filho, através do leite, é nula. As vacinas são aplicadas no músculo, onde fica retida a maior parte dos componentes. “A ínfima parte que entra no sangue é completamente eliminada pelo fígado em pouco mais de meia hora”, explica Helena Soares.
Também neste caso, o CEDOC tem-se dedicado à procura de respostas suportadas pela observação científica. Num estudo que o centro está a conduzir com lactantes, Helena Soares revela que, até agora, não foram ainda detetados componentes das vacinas no leite materno.
“Pelo contrário. O que temos observado é que o leite é um veículo de anticorpos e, portanto, se a mãe estiver vacinada os anticorpos que produz vão para o leite e daí para o bebé, podendo conferir-lhe alguma proteção”.
As conclusões do CEDOC encontram ecos num estudo publicado, a 21 de setembro, no American Journal of Obstetrics & Gynecology — Maternal-Fetal Medicine. A investigação veio revelar que as mulheres que recebem uma vacina de mRNA contra a Covid-19, durante a gravidez, passam altos níveis de anticorpos para os filhos. Os resultados mostram transferência transplacentária de anticorpos após a vacinação com uma vacina de mRNA contra a Covid-19 durante a gravidez, com 100% das amostras de sangue do cordão umbilical a apresentarem altos níveis de anticorpos anti proteína spike.
Conclusão
A vacina contra a Covid-19 é perigosa para fetos e para bebés a serem amamentados?
FALSO
As vacinas contra a Covid-19 não são perigosas para as grávidas nem põem em causa a vida do feto. Já as mulheres grávidas não vacinadas têm uma maior probabilidade de desenvolver formas mais graves de Covid-19, com consequências que podem ser fatais para o bebé.
Quando uma lactante é vacinada também não pode transmitir, através do leite, componentes da vacina ao filho, uma vez que estes são metabolizados pelo fígado na meia hora após a inoculação. Já a resposta imunitária desenvolvida pela mãe dá origem a anticorpos que passam para o bebé através do leite, podendo ter consequências muito positivas a nível da proteção da criança.
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