O ping pong público entre o Presidente da República e a Direção Geral da Saúde (DGS) sobre o isolamento de António Costa que, mesmo já com a vacinação completa há um mês e meio, está em isolamento por um membro do seu gabinete, com quem teve contacto, ter testado positivo, veio criar dúvidas sobre a “vantagem” da vacinação.
O primeiro a levantar, e com estrondo, essas dúvidas foi Marcelo Rebelo de Sousa. “Porque é que uma pessoa, apesar de vacinada há mais de um mês, com um certificado que lhe permite andar pela Europa e pelo mundo, sair do território português, no entanto está sujeita à mesma obrigação de quarentena ou de isolamento profilático durante dez dias que uma pessoa não vacinada ou só com uma dose de vacina?”, perguntou. “Tem de se explicar bem, para que não apareça como uma desvalorização da vacina”, acrescentou ainda.
A reposta da DGS ao Chefe de Estado foi que o primeiro-ministro está a cumprir isolamento por princípio de precaução em saúde pública.
A Norma da DGS que determina o isolamento a pessoas que tenham contacto com um infetado é a 015/2020 de 24 de julho de 2020 e aplica-se a não vacinados e a vacinados. No texto está escrito: “todos os contactos de alto risco estão sujeitos a isolamento profilático, no domicílio ou noutro local definido a nível local, pela Autoridade de Saúde”.
Foi este o procedimento seguido para com António Costa e que será seguido para qualquer outra pessoa. Pelo menos, por enquanto, já que esta regra está em discussão no seio das autoridades sanitárias.
Um contacto de alto risco é, segundo a mesma Norma da DGS, por exemplo, um “contacto cara-a-cara com um caso confirmado de infeção por SARS-CoV-2/ COVID-19 a uma distância inferior a 1 metro, independentemente do tempo de exposição” ou um “contacto em ambiente fechado com um caso confirmado de infeção por SARS-CoV-2 / COVID19 (ex. coabitação, sala de reuniões, sala de espera, sala de aula) durante 15 minutos ou mais, incluindo viagem em veículo fechado com caso confirmado de infeção por SARS-CoV-2/ COVID19 (a avaliação de risco em aeronave e navio deve ser remetida para as normas em vigor).”
Por isso, António Costa não teve de ficar em isolamento depois do contacto com o seu homólogo do Luxemburgo, Xavier Bettel, que testou positivo uns dias depois de um encontro entre ambos, porque esse contacto foi considerado de baixo risco. O mesmo não acontecendo com o contacto com um membro do seu gabinete, considerado de alto risco.
Bernardo Mateiro Gomes, médico de Saúde Pública, refere que a Norma é a que existe, mas isso “não quer dizer que não possa ser alterada”. Embora deixe no ar uma segunda leitura: “Será que é prudente, numa altura de expansão epidémica, correr mais riscos? Penso que não. Talvez lá mais para o fim de julho seja melhor”.
A questão, para este médico, é a forma como as coisas aconteceram na praça pública. “O lançamento de situações delicadas” como esta por “atores políticos”, como foi o caso de Marcelo Rebelo de Sousa, gera “uma cacofonia de opiniões na opinião pública”. O que, assegura, prejudica quem está no terreno porque “têm de gerir a desconfiança das pessoas perante a vacinação”.
A infeciologista Margarida Tavares acredita que um dos fatores que poderá estar a desmotivar as faixas etárias mais jovens é a norma da DGS permanecer igual para vacinados e não vacinados, ou seja, após um contacto de risco, ficam igualmente obrigados a cumprir um período de isolamento profilático de 14 dias. “Tem de haver vantagem na vacinação para aqueles que sabem que têm uma menor probabilidade de sofrer de doença grave porque só por si eles não vão ter medo.” E proteger os outros também não será motivação suficiente para alguns. Porém, a médica do Hospital de São João não é favorável à obrigatoriedade das vacinas: “Devemos tentar convencer as pessoas e, se Portugal não conseguir fazê-lo, com uma hesitação vacinal tão baixa, ninguém consegue”.
Conclusão
VERDADEIRO. Quem teve um contacto de alto risco tem de fazer isolamento profilático, independentemente de ter sido vacinado.
FACT CHECK “VERIFICADO”. Conheça os factos, porque é preciso ter VISÃO.