O plano contra o desperdício alimentar na cidade de Lisboa salvou no último ano mais de 2,1 milhões de refeições do desperdício, que acabaram distribuídas por pessoas necessitadas, informou o Comissariado Municipal para o Combate ao Desperdício Alimentar.
De acordo com o vereador centrista João Gonçalves Pereira, que lidera o Comissariado, entre maio de 2015 e maio deste ano, foram “recuperadas 2.134.704 refeições pelas 94 entidades parceiras da rede municipal de combate ao desperdício alimentar, que trabalham nas 24 freguesias de Lisboa”.
“Um valor de recuperação que não é mensurável”, acrescentou, numa conferência de imprensa para apresentação do relatório com o balanço do plano, salientando que “não há nenhum país do mundo que tenha uma rede alimentar que cubra toda uma cidade”.
Em 2015, a Comunidade Vida e Paz (CVP), um dos parceiros, reaproveitou 768 mil euros nas refeições que distribuiu, segundo um sistema de impacto social que a associação tem implementado desde há dois anos, revelou, por seu lado, Henrique Joaquim, responsável pela CVP.
A CVP apoia 60 agregados familiares com alimentos, cerca de 250 pessoas, algumas com regularidade semanal, “mas sempre de uma forma transitória”, porque o objetivo da organização é “tirar pessoas da rua e criar condições para que possam voltar a [viver] de forma autónoma”.
“Não só encontramos pessoas em situação de sem-abrigo e pessoas que tipicamente estão na rua, como encontramos há vários anos – e nos últimos anos esse número foi talvez o que mais aumentou – pessoas que, não estando na rua, estão em situação de grave vulnerabilidade social e que procuram o apoio dos voluntários no sentido de suprir uma necessidade que é a da alimentação”, disse.
Henrique Joaquim destacou, ainda, que os alimentos distribuídos “não são sobras”, mas alimentos “que foram confecionados nesse dia, acondicionados nesse dia e devidamente acondicionados”, no que a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) “tem sido um parceiro fundamental”.
O programa municipal de combate ao desperdício alimentar tem já dois núcleos oficialmente constituídos, no âmbito de comissões sociais de freguesia, em Belém e em Santa Clara, e deverá ter núcleos em todas as outras freguesias, exceto Campolide, que já tinha em funcionamento um projeto próprio semelhante.
Este envolvimento das juntas de freguesia é destacado pelo vereador dos Direitos Sociais da Câmara de Lisboa, João Afonso, salientando que “o trabalho contra o desperdício alimentar é um trabalho local”, porque é a nível local que se conhece melhor “a real expressão das necessidades do território e é, também, onde estão os voluntários”.
Um terço dos alimentos produzidos para consumo humano em todo o mundo é desperdiçado, o que corresponde a 1,3 mil milhões de toneladas por ano, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
Na Europa, o desperdício anual anda na ordem dos 30 a 50% dos alimentos produzidos, o que representa 89 milhões de toneladas de alimentos.
Em Portugal são desperdiçadas cerca de um milhão de toneladas de alimentos por ano.