“A maior parte das pessoas que cá temos não têm capacidade financeira”, disse à agência Lusa Lurdes Silva, coordenadora da Associação Nacional de Esclerose Múltipla (ANEM) que vê no projeto, que “reúne uma estilista e uma multinacional”, uma forma de “tentar minimizar as carências de pessoas que já não podem trabalhar em horário completo”.
A confeção das peças de roupa “ficará a cargo de utentes” daquela associação “que sabem costurar”, sendo que há outros que também já fizeram saber “serem voluntários e que querem ajudar no projeto, partilhando uma parte do tempo passado na ANEM em prol dessa iniciativa”, explicou.
“Sendo a esclerose múltipla uma doença irreversível e que se desenvolve por surtos, ao longo da vida do doente, esta provoca diferentes reações e, com isso, períodos de menor autonomia, pelo que a pessoa portadora pode estar mais ou menos disponível”, revelou Lurdes Silva prometendo que as máquinas para a confeção das roupas “surgirão no momento oportuno”.
A ANEM “desenvolve diariamente um trabalho de sensibilização da sociedade, em particular do patronato” para a especificidade da doença “apelando para que haja uma gestão das energias do trabalhador portador da Esclerose Múltipla, através, por exemplo, da redução do tempo de trabalho”, revelou.
Instituição Particular de Segurança Social (IPSS), a ANEM presta um apoio a nível nacional ao abrigo de um conjunto de parcerias celebradas e tem uma lista de espera que já atinge os 60 indivíduos, “uma parte dela há mais de dez anos”, disse Lurdes Silva.
O projeto agora anunciado, “virado para o apoio financeiro direto aos utentes”, sucede a outro, em vigor há cerca de 11 anos, que envolve uma empresa de reciclagem de Lousada, a Ambisousa e, mais recentemente, uma gasolineira, a CEPSA – que “permitiu que a iniciativa já tivesse atravessado a fronteira e tornado internacional”.
Trata-se de um projeto “de recolha de tampinhas” e a que, há cerca de um ano e meio, “por imposição da empresa de Lousada, tivemos de juntar também garrafas de plástico”, explicou a responsável. Acrescentou que, dessa forma, já foi possível “ajudar centenas de utentes com o mais variado material de apoio na doença”.
“Cadeiras de rodas, camas articuladas, andarilhos, cadeiras elevatórias foram algumas das valências conseguidas por anos de recolha de muitas toneladas de tampinhas que, depois de contabilizadas e creditadas pela empresa, são transformadas em apoio direto a quem nos procura, não apenas aos nossos utentes”, explicou.
“É a empresa que trata diretamente – seguindo as nossas indicações – da compra do material. O dinheiro não passa pelas nossas mãos”, sublinhou a coordenadora.
A ANEM presta apoio diário a 15/16 utentes abrangendo uma área que chega à periferia do Porto. Em 2015 tratou de 637 processos, 104 deles novos, fazendo ainda acompanhamento jurídico em 61 casos, 35 deles novos.
O futuro passa também pelo investimento em novas valências e a ANEM, nas suas instalações em Valbom, possui ainda consultas de medicina alternativa, nomeadamente acupuntura e osteopatia, abertas à população.